AUTO-CONHECIMENTO, PRAZER E ALEGRIA ATRAVÉS DAS BOLAS TERAPÊUTICAS
Maria Christina de Souza Soares
Pedagoga/Psicopedagoga
Terapeuta Corporal Reichiana e Analista Bioenergética(CBT)
Nos últimos tempos, a medicina demonstrou que uma boa parte da falta de saúde é causada pela baixa carga de energia. A conscientização deste fato, acompanhada de um conhecimento maior a respeito dos cuidados com a saúde física, mental, emocional e espiritual, está modificando os estilos de vida. O entusiasmo atual pelo movimento não é modismo. Sabemos que o único meio de prevenir os males da inatividade é permanecer ativo – não durante um mês, mas na vida toda.
Com a expansão de novas alternativas e perspectivas terapêuticas e de saúde desenvolveu-se dentro do trabalho corporal técnicas cujo objetivo não é apenas exercitar-se. Em sua maior parte, os problemas de movimento têm origens complexas. Praticar o movimento por si só, não leva a resultados positivos a não ser que se integre a seqüência de movimentos a um todo. O importante não é a apenas a quantidade de exercícios praticados, mas a qualidade e a função dos movimentos, além do reequilíbrio energético que eles proporcionam.
Um corpo encouraçado, como diria Reich:
“(…) é a conseqüência do medo de punição, à custa da energia do id, e contém as proibições e normas de pais e professores… Se, por um lado, esse encouraçamento tem pelo menos um sucesso temporário ao evitar estímulos pulsionais internos, por outro, constitui forte bloqueio não só contra estímulos externos, mas também contra influências educacionais posteriores”.
Mais tarde, quando adulto, o indivíduo reagirá aos impulsos internos e externos da mesma forma, já que ao retê-los, estará a mercê de comportamentos socialmente aceitos conjuntamente com responsabilidades familiares e profissionais. Esta retenção manifesta-se na rigidez corporal, nos distúrbios de postura, na falta de tônus, na respiração restrita e nas tensões crônicas, enfim, no corpo que não se expressa nem se movimenta livremente. O bloqueio de nossa auto-expressão revela-se também de forma psicossomática como enxaquecas, resfriados crônicos, dores de estômago, entre outros.
Diante destas manifestações emocionais faz-se necessário um conjunto de movimentos específicos, objetivando trazer à consciência sua carga energética tornando a relação paciente-somatização mais leve.
Pessoas harmonicamente equilibradas, plenamente concentradas e felizes, tranqüilas e criativas, este é um dos objetivos da Análise Bioenergética, que estuda a “personalidade humana em termos de processos energéticos do corpo”. Levando em consideração que a energia encontra-se em todos os momentos da vida, desde o mais alegre até ao mais triste, do mais desafiador ao mais conhecido, além estar também nos movimentos, sentimentos e pensamentos que o ser humano elabora; por que não deixá-la fluir da melhor forma possível?
As crianças vivem num mundo próprio de encantamento, de fantasia, de sonhos, onde a realidade e o faz-de-conta fundem-se harmonicamente nas brincadeiras. A necessidade de brincar não é exclusividade da criança. O adulto, em qualquer fase de sua vida, sente esta necessidade, que é abafada pelos pré-conceitos de comportamento que lhe impuseram ou se impôs, pelo pudor, pelo medo de ser considerado infantil e imaturo, já que a sociedade cobra um comportamento sério e responsável, onde se divertir muitas vezes está excluído e se divertir é um caminho para redescobrir a alegria, alegria de viver.
Usando palavras do próprio Lowen:
“As crianças pequenas geralmente são receptivas ao sentimento da alegria. Sabe-se que elas literalmente pulam de alegria (…) é muito raro ver uma pessoa madura ou mais velha sentir e agir dessa forma. Dançar pode ser o mais próximo que conseguem chegar disso, e é por isso que dançar é a atividade mais natural nas ocasiões festivas. As crianças, entretanto, não precisam de uma ocasião especial para estar alegres. Deixe-as livres, na companhia de outras crianças e logo surgirá uma atividade prazerosa (…) os adultos são mais reservados que as crianças em suas demonstrações de qualquer sentimento, o que limita a intensidade de suas sensações agradáveis. Além disso, são sobrecarregados com preocupações e responsabilidades e perseguidos por culpas, o que refreia sua excitação a tal ponto que a alegria é raramente vivenciada”.
Como podemos ver, ser adulto nos impõem uma certa restrição quanto ao sentir alegria. Levar os adultos a se sentirem novamente como crianças, sem suas defesas literalmente ativadas, torna-se um recurso importante para um processo terapêutico, onde as emoções e sensações podem fluir com maior liberdade. Vivenciar esta sensação é o que nos impulsiona para a vida, alegria traz excitação, energia.
A Análise Bioenergética, através de exercícios e podendo utilizar-se de materiais variados auxilia na liberação das tensões crônicas musculares, na respiração livre, na expressão espontânea dos sentimentos, na libertação dos bloqueios. O ser humano passa a se ver de forma mais ampla e integrada, sem as cisões mente-corpo, emoção-razão. Encontra-se uma melhor qualidade de vida, o autoconhecimento e a ampliação do potencial energético. Através do trabalho corporal, permite-se entrar em contato com o próprio corpo, sensações e sentimentos, desenvolvendo a autopercepção e liberando o potencial afetivo e sexual.
Dentre os materiais utilizados na terapia corporal, a Bola Terapêutica é um excelente recurso para se trabalhar os bloqueios emocionais, assim como as couraças musculares característicos de cada caráter. Por ser naturalmente lúdica, o paciente sente maior confiança, criando estímulos para o trabalho corporal. O importante é saber como utilizar estes materiais para que eles sejam os nossos auxiliares no processo e não meros equipamentos.
É com este intuito que apresentamos o trabalho com as bolas terapêuticas, como um instrumento que pode trazer a alegria da nossa criança interna nas sessões e na vida. Ao se trabalhar com as bolas, não é raro, perceber que o cliente, mesmo aquele mais rígido, vai se soltando e permitindo que as sensações fluam mais transparentes. A excitação, a alegria, as tristezas e as lembranças vêem com naturalidade, os insights aparecem como flash de situações conhecidas da infância. As sensações de liberdade, de desafio se fazem presentes, as crenças internas passam a ser questionadas e isto abre caminhos para o processo terapêutico.
Já 2º século a.C., Galen, influente filósofo e médico grego, escreveu que exercitando-se com uma bola pode-se:
“(…) mexer a pessoa ativa ou inativa, podendo exercitar as partes inferiores ou superiores do corpo, alguma parte particular ou todas as partes igualmente… desde o mais intenso treinamento até o relaxamento mais suave”.
Galen também mostra: “os melhores atletas não são os que fazem exercícios só para o corpo, mas sim, aqueles que os praticam de forma a agradar o espírito”. Obviamente, os benefícios de exercitar com bolas durante séculos foram reconhecidos.
A “Bola Suíça”, como é conhecida hoje, originalmente começou a ser utiliza em 1958, da pela Dra. Elsbeth Köng, pediatra suíça, através o método de Bobath no tratamento com recém-nascidos e crianças.
Atualmente estão em desenvolvimento nos EUA estudos que testam a efetividade das bolas em pacientes com Desordem de Déficit de Atenção, equilíbrio desordenado, hipotonicidade, artrite e osteoporose. Inúmeras clínicas de terapia estão usando a bola para reabilitação na medicina ortopédica, esporte, dor crônica e pacientes cardíacos. Instalações de reabilitação profissional começaram a utilizar a bola acompanhada dos métodos de tratamento tradicionais. As possibilidades de aplicação das “Bolas Suíças” estão crescendo através de pessoas de diferentes campos de atuação que descobriram sua efetividade.
A “Bola Suíça” é uma ferramenta única, facilmente funcional para os terapeutas trabalharem com pessoas de todas as idades e culturas, trazendo espontaneamente o lúdico. Na área clínica, a bola oferece ao cliente momentos de imenso prazer motivando-o na realização de exercícios em sua casa, podendo ser utilizada em grupos ou individualmente. Graças à variedade de recursos que oferece, ela é apropriada no campo terapêutico, pedagógico ou no lazer. Indicada, também, para exercícios de alongamentos, relaxamento, reeducação postural, desbloqueio, respiração, massagem e jogos em geral. Pode ser utilizada em todas as áreas onde a abordagem corporal se faz presente: na Psicoterapia Corporal, Bioenergética, Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional, Fisioterapia e Reabilitação, Educação Física, Dança, Expressão Corporal e Artes.
No Brasil, as “Bolas Suíças”, também chamadas de Bio-ball ou Bolas Terapêuticas, estão sendo utilizadas por Terapeutas Corporais dentro do contexto terapêutico; por Fisioterapeutas para tratamentos específicos e reeducação postural; por Professores de Educação Física em Academias de Ginástica e por Educadores em Escolas de Educação Infantil para alinhamento de postura na escrita, em atividades físicas auxiliando no desenvolvimento motor das crianças e como atividade lúdica.
Atualmente, a Análise Bioenergética vem incorporando as Bolas Terapêuticas em seu elenco de trabalho. Alguns Terapeutas Corporais em Análise Bioenergética a utilizam no trabalho psicoterápico com sucesso. A utilização das Bolas têm auxiliado no desbloqueio energético de clientes rígidos, no fortalecimento do tônus e nos trabalhos de equilíbrio e confiança, dentre outros.
Dentro da Terapia Corporal tenho estudado a aplicabilidade das Bolas Terapêuticas na Análise Bioenergética nos últimos dez anos, o que me levou não apenas a aplicar os exercícios existente, mas adaptá-los e criar novos movimentos. Descobri que trabalhar com as Bolas, em muitos casos, facilita o processo de vínculo com o cliente, leva-o a uma maior disponibilidade de contato e pré-disposição para sentir o corpo e suas sensações.
Terminando esta apresentação ao trabalho com as Bolas Terapêuticas, faz-se necessário um lembrete sobre a importância que a Curva Orgástica possui dentro da Análise Bioenergética. Sua função é primordial e é ela que serve como parâmetro para nosso trabalho. Como na Curva Orgástica – tensão ® carga ® clímax® descarga ® relaxação – lançada por Reich e enfatizada por Lowen, toda seqüência de exercícios necessita de aquecimento (tensão), evolução (carga), movimentos expressivos (clímax), contato (descarga) e repouso (relaxação).
Partimos da premissa que a mudança necessária inicial é do profissional; fazendo-o rever seus conceitos do que faz, sugerindo uma mudança para como fazer. Não difere em nada do que Lowen nos ensina sobre o seu trabalho terapêutico.
“(…) desenvolvi a técnica de experimentar com meu próprio corpo tudo que pedia a meus pacientes, pois não acredito que seja direito nosso pedir a outras pessoas o que nós mesmos não estamos preparados para pedir de nosso corpo. Por outro lado, não acredito que possamos fazer pelos outros o que não podemos fazer por nós mesmos”.
Roteiro para Trabalho com as Bolas Terapêuticas
Conselhos práticos para praticar os exercícios
* Todos os exercícios devem ser realizados descalços.
* Durante os exercícios deve-se trabalhar sempre com pelo menos um dos pés bem plantados no solo, ampliando cada vez mais a superfície de contado da planta dos pés no chão. Deixe a respiração acontecer normalmente mantendo a boca solta e os maxilares relaxados.
* Procure não exigir de si uma performance, nem defina uma quantidade de exercícios a serem completados. O importante é a qualidade do movimento, o contato com as sensações do corpo e seus limites durante todo o tempo de trabalho.
* O número de vezes ou a seqüência dos exercícios deve ser definida por você segundo o tema que pretende trabalhar e a necessidade do seu corpo (relaxamento, movimentos mais agitados, alongamentos, etc).
* Primeiro você deve habituar-se com a bola, sinta sua textura, aprenda a girar e a manter seu equilíbrio sem esforço.
* Estabeleça uma relação harmônica entre você e a bola.
* Quando estiver mais habituado a trabalhar-se corporalmente, o tempo de trabalho pode ser mais longo. Do contrário vá aumentando seu potencial gradativamente.
Exercícios e posições básicas
Saltos com variações de movimentos de braços, partindo do balanço inicial:
* Exercícios que proporcionam aumento de carga e descarga; auto-afirmação; estabilidade; equilíbrio; coordenação; soltura dos ombros e braços.
* Pode-se utilizá-los para trabalhar: a agressividade, limites, busca, eixo, conquista.
Movimentos para a pelve:
* A região pélvica simboliza o equilíbrio das energias, segurança, base de vida.
* O pescoço representa o grau de flexibilidade dos seus pensamentos e cobranças.
* A coluna vertebral é o suporte do corpo, o pilar da estrutura óssea e muscular, responsável pelos movimentos dos braços, pernas e órgãos. Simboliza tudo que suportamos e os dilemas da vida.
* As vértebras cervicais representam o apoio da cabeça, é a auto-afirmação.
* As vértebras torácicas simbolizam as contrariedades. Problemas com elas podem significar carência afetiva, tristeza, conflitos internos de inferioridade, medo de assumir a vida e suas responsabilidades.
* Problemas com as vértebras lombares podem significar medo, dificuldades de assumir compromissos futuros, repressão sexual ou abuso.
Carregando e descarregando energia
* Sentado na bola, pés plantados no chão.
* Comece a pular na bola, sem tirar os pés do chão.
* Inspire no pulo e expire soltando sons e lançando os braços com força em direção ao solo.
Equilíbrio
* Partindo do arco para frente, vá estendendo o corpo até equilibrar-se. Mantenha o peso no centro do seu corpo que fica a 3 cm abaixo do umbigo. O apoio no centro é fundamental, pois muitas vezes apoiando-se no peito ou coluna, sobrecarregamos de tensão estas regiões.
* Sentado sobre a bola. Vá procurando seu eixo e lentamente tirando os dois pés do chão.
Relaxamento: Meu mundo, minha vida
XX – XX – XX – XX
Referência Bibliográfica:
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Carrière, Beate. Bola Suíça – teoria. Exercícios básicos e aplicação clínica. Manole, 1999.
Klein-Vogelbach, Susanne. Ballgymnastik zur Funktionellen Bewegungslehre (Ball Exercises for Functional Kinetics). New York: Springer-Verlag, 1981.
Kucera, Maria. Gymnastik mit dem Hupfball (Exercises with the GymBall). 5th Edition. Stuttgart: Gustav Fischer Verlag,1993.
Lowen, Alexander. Alegria – A entrega ao corpo e à vida. Summus,1997.
Lowen, Alexander. Bioenergética. Summus, 1982.
Lowen, Alexander. Exercícios de Bioenergética. Ágora, 1985.
Lowen, Alexander. O Corpo em Terapia – a abordagem bioenergética. Summus, 1977.
Posner-Mayer, Joanne. PT. Swiss Ball Applications for Orthopedic and Sports Medicine – A guide for home exercise programs utilizing the swiss ball. Ball Dynamics International Inc, 1995.
Reich, Wilhelm. A Função do Orgasmo. Editora Brasiliense, 1984.
Reich, Wilhelm. Análise do Caráter. Martins Fontes,1998.
Elaborado por:
Maria Christina de Souza Soares
Pedagoga/Psicopedagoga
Terapeuta Corporal Reichiana e Analista Bioenergética(CBT)
Colaboração: Adelaide Nogueira de Mendonça Nascimento
Psicóloga, Terapeuta Corporal Reichiana e Analista Bioenergética (em formação)
Ligare – Centro de Psicoterapia Corporal
R. Jessé Camargo, 320 – Vale das Paineiras – Americana – SP
Tel. (19) 3465.3515 / 3465.2662 / 3465.3163
www.ligare.psc.br E-mail: ligare@ligare.psc.br
Reich, Wilhelm. Análise do Caráter. p.153/154.
Lowen, Alexander. Bioenergética. p. 40.
Lowen, Alexander. Alegria – a entrega ao corpo e à vida. p.13.
Sweet, Waldo E. Sport and Recreation in Ancient Greece: A Sourcebook with Translations. New York: Oxford University Press, 1987.
Sweet, Waldo E. Sport and Recreation in Ancient Greece: A Sourcebook with Translations. New York: Oxford University Press, 1987.
O termo Bio-Ball não é possível sua utilização, pois o mesmo é patenteado no Brasil.
Lowen, Alexander. Bioenergética – p. 34.