Frinéa Souza Brandão – Psicóloga –
“Será que o panorama do mundo contemporâneo, e o da Saúde Mental em especial, se apresenta tão sinistro que encontrar um conjunto de escritos que defende de modo talentoso a vida, a liberdade e a invenção é uma espécie de bálsamo para os espíritos pesarosos e injuriados por este sombrio horizonte?”. [Baremblitt, Gregorio em Saúde e Loucura 4]
É dessa forma que eu leio Reich: para mim é sempre um conjunto de escritos que defende de modo talentoso a vida, a liberdade e a invenção.
Por isso a necessidade de interpretá-lo e de dentro de nossa prática ajudar a completar as lacunas num processo de desconstrução e reconstrução, num processo de transformação. Por isso também a importância das particularidades e das diferenças, sem perder de vista o núcleo filosófico, prático e também ideológico de cada autor.
Elizabeth Roudinesco no final de seu livro sobre a vida e a obra de Lacan cunha uma excelente expressão – refere-se aos analistas independentes como os “praticantes do inconsciente” e os define como profissionais que não crêem mais na superioridade de uma técnica sobre outra e crêem nas mudanças sociais e culturais. Com isso percebem que a fala dos analisandos mudou: “seu mal estar é mais visível e sua demanda de ajuda é tanto maior na medida em que são confrontados a cada dia com os poderosos ideais do êxito social, do consenso liberal, do fanatismo, do oculto e do cientificismo”.
Portanto, refletir sobre uma teoria requer dentre outros cuidados o de nos localizar no nosso tempo e espaço e com isso localizarmos o autor no seu tempo e espaço.
Reich deixou um legado sólido no que diz respeito à clínica. Praticou bastante e sempre refletiu sobre ela ampliando-a e questionando-a. Cada descoberta que fazia gerava muitas vezes um novo olhar sobre ela. Isso fez com que criasse elementos tanto teóricos quanto técnicos de transformação profunda e eficaz do ponto de vista prático.
Graças a esse olhar criou uma visão energética sobre o homem territorializando-o em sete segmentos. Dinamizou esses segmentos em dois conceitos básicos a contração energética e a expansão energética. Isso significa que todos os segmentos são percorridos por essa dinâmica. Essa dinâmica é moldada pela história do sujeito (que na ideologia reichiana é sempre sujeito mesmo quando é aparentemente sujeitado) que cria uma determinada formação corporal (couraça). Isso pode ser gerador ou não de sofrimentos permanentes e repetitivos diretos que são as patologias.
Esses sofrimentos podem se expressar de várias maneiras. Essas maneiras que vão caracterizar o tipo, a origem e o quantum de incômodo ou patologia.
Todo o corpo é um canal de expressão e concomitantemente de comunicação energético-sensorial.
A comunicação energética sensorial se dá em um campo que pode ser pessoal interpsíquico, pessoal intrapsíquico, grupal e cultural. A preponderância, a função e a utilidade de cada uma dessas comunicações é que vai nos dar a leitura de uma determinada couraça. Uma comunicação importante interpsíquica vai nos revelar sobre o que determinados autores chamam de estrutura (psicose, neuroses etc.). A comunicação intrapsíquica pessoal vai nos revelar o que Reich chama caráter. O grupal e cultural como o meio de construção desse sujeito vai nos revelar a ideologia e as necessidades ideológicas do momento, algo próximo ao que conhecemos com a denominação influência das tendências.
Através desse mapeamento, Reich desenvolveu técnicas específicas para ajudar o sujeito a se conquistar ou reconquistar sua autonomia, liberdade de expressão e responsabilidade sobre a vida
Fonte:www.orgonizando.psc.br