O Toque, elemento de contato, tão primordial ao ser humano, tem sido na nossa cultura, cada vez menos valorizado.
O Toque do olho, de (através) palavras, da pele, sem dúvida, ameaça. E o ser humano carece tanto dele. Profundamente.
O que surpreende é o afastamento do homem, que, cada vez mais, evita o toque.
As pessoas que, na primeira infância, foram mais agraciadas com carinho e atenção, tornam-se menos susceptíveis de doenças na idade adulta. São mais equilibradas. Isto decorre do fato delas sentirem-se amadas no decorrer de suas vidas.
Por contato direto, entende-se o toque de pele, epidérmico.
Também o toque de olho no olho transmite segurança, conforto, confiança, aceitação e amor. E o toque de palavras, ternas, amigas, suaves e amorosas. Tudo isto facilitará, que esta criança, no futuro, tenha maiores oportunidades de desenvolver um adequado senso de si próprio.
Senso este, tão necessário, para relacionamentos mais saudáveis. Ou seja, para que possamos desenvolver boas amizades, é importante que tenhamos um contato concentrado em nós. Porém isto não é tarefa fácil.
Nossa civilização impõe uma corrida em direção à sobrevivência e ao sucesso, que nos afasta da nossa personalidade, da nossa essência animal. Reduz-nos a uma intelectualidade racional que nos joga numa desabalada corrida para longe dos nossos sentimentos, das nossas emoções, das nossas intuições.
Sem perceber isto, o homem moderno, automatiza-se, encerra-se nos grilhões da pressa e do progresso. Não caminha. Enferruja os músculos e o corpo. Este já encouraçado pelas defesas dos medos e das ausências na primeira infância.
Aí, este corpo tende, muito mais facilmente a estar estressado, do que ao sentir, ao pulsar, ao ser.
O primeiro toque causa bastante prazer. É quando nós nos damos conta. Tomamos consciência. E esta se dá pelo, e através do corpo em seus limites. Em suas potencialidades. Conhecimento do corpo. Seu funcionamento e suas tensões.
A partir daí, fluem os outros toques. Com o outro, com a vida, com a alegria, com o deleite, com a saúde.
Diferentemente dos frios e insípidos, formais e impessoais apertos de mão.
Dos abraços, que são tidos e vistos como invasores, pobres abraços pela metade, em vez de calorosos e afetivos.
Dos furtivos e fugidios olhares, através dos quais se olha, mas não se enxerga.
Muitas vezes, nem nos encaramos. Apenas disfarçamos. E são os olhos que transmitem nossa essência. Mas, estamos deixando de mostrá-la.
Acreditamos que o toque, saudável, seguro e não invasor seja capaz de ultrapassar a armadura de receios que o ser humano se revestiu, com e pelo medo de amar. Que, em outras palavras, chama-se medo da vida.
Toque, toque, toque. Não na madeira mas em nossos corpos. Experimentando. Para começar. Iniciando o caminho, a estrada longa e estimulante. Porém bonita, como a vida é.
Jayme Panerai Alves