Gostaria de render tributos e homenagens a dois homens nossos contemporâneos. Um é Wilhelm Reich, discípulo dileto de Freud na juventude, enquanto diretor das Clínicas de Psicanálise, na Alemanha antes da 2ª Guerra. Homem que introduziu o corpo na psicologia, sobretudo pela valorização da respiração nos processos da vida. O outro, vivo até hoje, aos 90 anos, morando em New Heaven, a 2 horas de New York, é Alexander Lowen, casado com Leslie Lowen, 74 anos. Ambos fortes, firmes e cheios de energia.
Reich e Lowen entregaram suas vidas ao esforço de ampliar a consciência do Ocidente com relação ao fluxo energético corporal e sua influência na saúde. Ou seja, quanto menos bloqueios energéticos no organismo, mais a saúde e a circulação sangüínea vão fluir.
A respiração é fator decisivo nesse processo: respiração plena, abdominal, inteira, não partida. Tórax e abdômen aumentando na inspiração e murchando na expiração. Ao invés do peito para fora e barriga para dentro, peito para fora e barriga para fora (na inspiração). Na expiração, barriga e tórax para dentro, murchando.
A expiração é considerada, nos processos psicocorporais, tão ou mais importante que a inspiração, porque quando expiramos tudo que podemos, nos livramos de todo resíduo de ar do pulmão, de maneira a inspirarmos livremente toda nossa capacidade pulmonar.
Qual é o sentido dessa respiração? Qual é o ganho? Qual é o efeito? É o de ampliar nossa capacidade respiratória. Então, gostaria de unir a respiração à alimentação. Como dois modos de recebermos e adicionarmos energia a nossa vida e a nossos corpos. Ambos são definitivamente responsáveis pelos níveis de energia no corpo.
Existem os secundários, como água, sol, sono etc. mas os básicos são a respiração e a alimentação. Daí a importância da alimentação ser regular e poder nos nutrir em nossas carências, deficiências e necessidades.
Hoje o mundo está vivendo, em níveis alarmantes, o fenômeno da depressão.
Eu gostaria de tecer algumas considerações a partir do ângulo de visão que muitos anos de trabalho e de prática em processos psicocorporais me sinalizaram.
Em primeiro lugar, situemos o ofício da medicina no seu devido lugar, de guardião número um da saúde das pessoas. Em caso de algum sintoma que chame sua atenção, busque seu médico. Depois, passo a sugerir que respiremos suave e profundamente, como os animais na natureza e como as crianças.
Gostaria de incentivar as pessoas a complementarem seus tratamentos médicos, quanto à depressão, com exercícios respiratórios profundos e uma boa alimentação. A respiração e a alimentação dão energia. A depressão é a quebra da energia. Então, vem a preguiça, o desinteresse, a falta de vontade, o querer ficar na cama, a indiferença, o adiar, o não ter forças.
A sugestão da respiração plena e profunda é feita na busca de que a energia absorvida, gratuitamente, da natureza possa transformar a circulação sangüínea mais deficiente na depressão, numa respiração capaz de permitir que o sangue e a energia circulem mais ativamente.
Tenho o cuidado de recomendar que busquemos o médico sempre que sintomas de depressão possam se estabelecer. Mas, ao nos dirigirmos a ele, devemos ir apoiados em uma respiração plena, profunda e abdominal.
Também gostaria de falar sobre o chorar, atividade natural do corpo humano, que nos foi retirada pela conserva cultural, expressão de Jacob Levy Moreno, criador do Psicodrama.
A história de que homem não chora, “não chore, seja forte” é uma agressão as nossas glândulas lacrimais e, consequentemente, ao livre fluxo energético do corpo. Ao não chorarmos pelos olhos, terminamos prendendo as lágrimas e chorando pelo coração, no enfarte ou pelo estômago, na gastrite e na úlcera. O choro, a lágrima, dissolve a dor. A sabedoria popular afirma que chorar lava a alma. É verdade. Chorar alivia, remove pesos, nos faz humanos e mais próximos da nossa essência. Na depressão, o choro pode ser a vara de condão que permite a transformação.
Por último, vamos enfocar a esperança, elemento que, à semelhança das estrelas, está presente na humanidade e na sua relação com o cosmos, com o amanhã e na certeza de que elas estarão lá, sempre nos acompanhando na marcha serena e segura da natureza no seu eterno porvir.
Então, poderemos mergulhar nas nossas depressões inevitáveis e atravessá-las com a convicção que o outro lado sempre nos conectará à saúde e ao maior conhecimento de nós mesmos. Respirando, chorando. Com esperança. Como uma lâmpada nos iluminando ao redor.
Quando, nas organizações, nos grupos, nas famílias ou com nossos amigos, percebermos alguém deprimido, devemos parar e sugerir que ele respire. Habitualmente. Muito. Profundamente. Conectarmos com este tesouro é, certamente, estarmos mais vivos.
Jayme Panerai Alves (Psicólogo)
jayme@libertas.com.br