Falar sobre esse espetáculo me deixou imensamente feliz, mas ao mesmo tempo com a difícil tarefa de escolher uma direção entre tantos símbolos e arquétipos existentes em um único personagem, que em sua desconstrução nos faz refletir sobre aspectos importantes da vida humana.
A partir de um olhar da Analise Bioenergética, voltada para o corpo e sua vitalidade podemos observar um “corpo social”, que reflete e é refletido no miserável do sertão, que encontra sua força de vida na conexão com o Santo, seu Padim, que lhes mostra a possibilidade de mudar o rumo de sua história, mostrando que juntos poderiam fazer de Juazeiro uma cidade e do Cariri um lugar menos árido.
O milagre da Beata perde a sua importância, o povo precisava de um santo desprendido do modelo católico, desconstruindo o mito cristão de Pai Celestial, o povo elege um “Padim”, que é escolhido, material e real “Pai não se escolhe, padrinho sim”.
Vemos aqui, no Cícero, um corpo marcado pela memória física das experiências vividas, cada personagem dessa trajetória deixa tatuado sua cicatriz e sua identidade. Esse corpo santo desfaz a inocência e a dimensão celestial, abrindo caminho para o Real, o terreno.
Utilizando uma linguagem muito próxima do universo onírico, a peça apresenta um conteúdo indefinido em sua forma, local e tempo, através de metáforas e metonímias, mistura substâncias religiosas, políticas e sociais, como um amálgama que mescla e condensa em um só corpo a subjetividade de um herói que pulsa e redefine o mito.
Georgina Martins – Saberj