Um ambiente mais informal sempre favoreceu a aprendizagem. Um clima, uma atmosfera social informal, cordial, amiga e prazerosa tem contribuído para uma maior produtividade dos grupos. Esse clima é formado pelos comportamentos das pessoas componentes do grupo. Quanto mais à vontade as pessoas se sentirem para se comportar, melhor se sentirão e produzirão com prazer. Sabemos, pela nossa própria experiência, a diferença de interação quando estamos diante de uma pessoa com a qual nos sentimos bem para falar aberta e francamente e diante de uma outra em que temos que pensar e medir palavras. É muito mais confortável e produtivo quando nos sentimos à vontade com o outro.
Do ponto de vista andragógico, os adultos querem ter sua experiência e sua pessoa aceitas e consideradas. E, para isso, precisam funcionar naturalmente, como elas são, sem receios, sem uma postura defensiva. As defesas são acionadas quando existem ameaças explícitas, implícitas, reais ou imaginárias.
Para funcionar naturalmente, a pessoa precisa estar com a energia fluindo no seu corpo de cima para baixo e de baixo para cima; sua respiração é tranqüila, seus movimentos espontâneos. Assim, ela se sente à vontade para expressar suas percepções, pensamentos e, principalmente, seus sentimentos.
A expressão é uma função importantíssima para uma pessoa. Tolha-se sua possibilidade de expressão e a pessoa alterara seu padrão de funcionamento, acionando e fortalecendo suas resistências e suas defesas.
Aprender é um ato de superação de resistência ao que não se sabia, portanto, ao desconhecido. E determinadas atitudes são facilitadoras da aprendizagem. Por isso é que a facilitação dos canais de expressão espontânea da pessoa ajuda, e muito, o processo de aprendizagem.
A Análise Bioenergética, escola psicológica de abordagem corporal (teoria da personalidade e prática psicoterapêutica), tem fornecido aos grupos ferramentas importantes para facilitar o funcionamento mais espontâneo das pessoas, através de exercícios que lidam com sua energia. A intenção é de fazer fluir a energia da pessoa pelo corpo todo, amaciando conjuntos musculares contraídos e tensionados , ampliando-lhes os movimentos. Esses exercícios trabalham ainda a atenção, a concentração e ajudam a manutenção da saúde.
A introdução de exercícios da Bioenergética (trabalho em todos os sete segmentos musculares) em muitos cursos e treinamentos que temos ministrado tem contribuído efetivamente para um maior autoconhecimento, integração grupal e facilitado o processo de aprendizagem de conteúdos cognitivos. A experiência tem-nos mostrado o quanto esses exercícios fazem pelas pessoas. Nos seus depoimentos dizem sentir-se mais vivas, mais inteiras e mais disponíveis para a relação interpessoal e para a aprendizagem. Têm integrado muitos grupos e facilitado , sobremaneira, o alcance de objetivos educacionais e de produção dos grupos.
Há mais de vinte anos venho trabalhando na área de recursos humanos do SENAI, instituição de educação profissional, vinculada à Confederação Nacional da Indústria. Entre outras atividades, ministro treinamentos na área comportamental, trabalhando as relações e os conflitos interpessoais além, é claro, de atuar em atividades de integração intra e inter-equipes.
Entre algumas experiências de aplicação da Bioenergética a processos organizacionais e educacionais que temos introduzido no SENAI selecionei uma delas que gostaria de detalhar um pouco mais pela importância que atribuo ao projeto.
Há seis anos tenho trabalhado num Projeto chamado PAM –EP – Projeto de Ações Móveis – Educação Profissional. Esse projeto objetiva levar a educação profissional às comunidades desassistidas pelo SENAI e, praticamente, excluídas da sociedade. Trata-se, sem dúvida, de um Projeto de cunho social. Através de equipamentos facilmente transportáveis, o SENAI tem ministrado cursos de curta duração que possam transformar um saber em renda imediata para os participantes. No momento, estamos trabalhando em vinte e um estados da federação, com umas trinta ocupações (cursos diferentes). Quem ministra os cursos desse projeto são os chamados Agentes de Educação Profissional de Ações Móveis – AEPAM que são treinados pelos Gestores estaduais do PAM. Cada estado preparou dois gestores .Esses gestores foram capacitados em seminários para o exercício de suas funções. A duração desses seminários foi de 40 horas, em 5 dias de trabalho, sendo 10 horas dedicadas à prática de exercícios de Bioenergética, no início de cada expediente. Além disso, um dos gestores foi preparado para aplicá-los quando do treinamento dos AEPAMs em cada Estado.
Os AEPAMs, por sua vez, deverão introduzir exercícios de Bioenergética nas suas aulas . Dessa forma, estamos utilizando os exercícios como facilitadores do processo de aprendizagem da população alvo do Projeto. Isto quer dizer que estamos levando os exercícios de Bioenergética a uma população sabidamente carente, nos mais longínquos rincões do país não apenas para ajudar a aprendizagem dos conteúdos profissionais mas, também, para contribuir, no que for possível, para a saúde pessoal e dos grupos que compõem as comunidades. Para ter-se uma idéia, estamos atuando em comunidades no Norte do país, onde se chega tão somente com barcos até as periferias das grandes cidades.
A aceitação dos exercícios tem sido, no geral, muito boa. As pessoas começam um pouco envergonhadas, não entendendo bem o que isso tem a ver com o ensino mas logo dão depoimentos do bem que sentem ao fazerem os exercícios. Muitas continuam a fazê-los mesmo depois dos cursos/seminários, incorporando-os ao seu quotidiano. Alguns docentes de outros programas têm relatado que a introdução dos exercícios nas suas aulas tem facilitado o processo de aprendizagem e de integração dos alunos.
Ainda não temos documentada (fotos, vídeos, questionários) essa experiência, mas estamos prontos a fazê-lo, porque acreditamos ser importante compartilhá-la com as pessoas que trabalham com a educação.