Maria Goretti – Psicoterapeuta
Viajava com uma amiga, à procura de encontrar paisagens diferentes e algo de novo no horizonte.
De tempos a tempos, é preciso desfocar o olhar das rotinas e das emoções recorrentes que tardam em ser metabolizadas, dando origem a outras.
O movimento ajuda-me a sentir um pouco mais, a sair do impasse. Viajar, deixando para trás responsabilidades, permite-me estar a sós com o meu coração e olhar para ele, sem pressa. Um olhar de um estranho, numa cidade desconhecida, pode despoletar em mim um sonho, uma tristeza, uma alegria, uma grande inspiração criativa. Ou fazer-me recordar um medo e perceber um sem número de defesas que não me deixam ousar e ir mais além.
Por vezes, basta um movimento.
Outras vezes, basta uma palavra no momento certo, de olhos nos olhos. E o coração pode abrir-se. Assim aconteceu, já na descida para Lisboa.
A minha amiga, de aparência sempre altiva e segura, de palavras firmes e sábias, de sorriso discreto, de olhar escondido, de movimentos cansados, de coração trancado, de repente, depois de muitas conversas sobre o amor e sobre a confiança, ousou olhar-me e confiar (Olhar-se e confiar). A viagem estava no fim e era preciso que ela cumprisse a sua missão, tal como uma terapia que, ao aproximar-se do fim, leva o cliente a tocar nos seus jardins mais secretos, com medo de ir embora sem a grande resposta.
No seu olhar tímido e nos seus gestos comedidos, havia um pedido subtil de um conselho sábio. Mulher inteligente que soube proteger-se dos seus medos e que pressente que está na hora de ter coragem de se abrir e testar as próprias asas! Nesse pedido subtil, já se vislumbrava uma vulnerabilidade.
Com o meu feedback, fez-se um silêncio repleto de emoção. Os seus olhos encheram-se de lágrimas e de vida. Nunca foram tão grandes! O seu rosto ficou rosado e os seus movimentos mais redondos e harmoniosos. Aquela mulher sábia e distante transformou-se, em segundos, numa mulher mais jovem e calorosa. Havia alegria e curiosidade no seu olhar e uma emoção enorme na sua voz que assumira uma tonalidade aveludada e profunda. Os minutos iam passando e ela tornava-se mais jovem ainda, uma menina. Os seus gestos eram espontâneos e a voz mais fresca, soando entre pequenas gargalhadas e silêncios cheios. De repente, uma vontade enorme de chorar. De felicidade. Admitir a possibilidade de voltar a ver aquele homem, de falar com ele, olhos nos olhos, foi suficiente para desencadear nela um fluxo vital. Tornar o passado presente e reviver o sentimento amoroso. Percebeu que estava cristalizada numa atitude defensiva e que tinha trancado o seu coração para não sofrer. Percebeu que é preciso abrir-se à possibilidade de sofrer de amor, para voltar a ser feliz e deixar para trás as idealizações responsáveis pelos seus movimentos cansados. “Nunca me pareceste tão humana”, disse-lhe eu. “És tão mais bonita, assim vulnerável. Mais feminina e próxima”. Nunca me tinha sentido tão próxima dela.
De facto, quando as portas estão mal fechadas, a vida fica interrompida e o corpo esmorece. É preciso voltar ao sítio onde a história ficou incompleta, para a poder resolver e integrar. Sentir a dor para voltar a ter prazer.
Ao sabor de uma respiração profunda e sincronizada, os nossos olhares mantiveram-se em contacto como duas mulheres que se respeitam. A sua confiança em mim emocionou-me muito. E, neste processo, levantou-se um véu sobre a resposta que procurei nesta viagem. A confiança. A intuição. Preciso de confiar na minha intuição e sabedoria e, com base nela, tomar a decisão mais difícil da minha vida. Abrir ou fechar completamente uma porta. É preciso ter a coragem de olhar para dentro e sentir todos os medos, todas as tristezas, todas as raivas, para limpar o canal da comunicação e estar livre para amar de novo. As grandes decisões são solitárias e a verdade nem sempre é linear. Os nossos mestres e pais internos dizem-nos, muitas vezes, para não fazer isto ou aquilo, para não sofrermos mais uma desproteção. Mas é preciso ouvir o coração atentamente e sacar-lhe a verdade, para que o olhar volte a ter brilho.
Algures as nossas histórias se assemelhavam. E cada uma de nós viu na outra o espelho da esperança, a possibilidade de reviver algo que está morto e precisa de ter vida. No fim da viagem, separamo-nos verdadeiramente. Cada uma está só, com a sua tarefa existencial. Os nossos olhares que, em tempos se fundiram, hoje estão mais límpidos e nós, individuadas.
Despedimo-nos com uma enorme gratidão. Ela foi com brilho nos olhos e com a certeza de que teria que finalizar um ciclo para um novo se poder iniciar. Eu fiquei com a plena noção da minha força e da minha solidão. Tudo farei para voltar a sentir o mar dentro de mim e as suas ondas reflectidas no meu olhar.
Tenho-me debruçado sobre o olhar dos meus clientes, e do meu próprio, observando as transformações ao longo dos processos terapêuticos e, por vezes, durante uma mesma sessão. A terapia bioenergética, na sua dualidade de análise e trabalho corporal, tem efeitos extraordinariamente reparadores e transformadores. E tenho percebido que cada transformação num cliente é uma maravilhosa oportunidade de crescimento para mim própria, aprofundando cada vez mais o meu olhar e o meu sentir. É impossível ajudar um cliente sem sincronizar com ele as batidas do coração. É preciso fazer uma dança, simétrica, às vezes e, outras vezes, completamente assimétrica para produzir mudança criativa. Nesta dança, é impossível estar de fora. Há clientes que têm o olhar congelado no medo o qual, uma vez trabalhado, poderá descongelar, despertando a tristeza profunda ou até o prazer da alegria. Outros há que parecem estar radiantes de alegria, mostrando um olhar aparentemente vivo e aberto e, através da mobilização da alegria, é possível reencontrarem o medo há muito reprimido. É preciso ir atrás do que o cliente nos traz, embarcar com ele no mar do espectro emocional dor/prazer. Não é possível resgatar o prazer sem passar pelos núcleos de dor e angústia. E neste trabalho, tenho percebido que é fundamental levar os meus clientes a focalizar. Os meus olhos servem de espelho reflector do seu estado de alma. Outras vezes, reflicto eu diferentes olhares, sobretudo olhares significativos para cada cliente, para que revivam algo que ficou esquecido. Os olhos são um portal para o mundo inconsciente e confrontam o cliente com a verdade. O terapeuta precisa de ter o olhar límpido e descontaminado para poder reflectir com a máxima qualidade!
DEPOIS DO MEDO, NÃO HÁ MAIS MEDO…E O CORPO PODE DANÇAR
O A., de 47 anos de idade, frequenta um programa de reabilitação alcoólica há cerca de 6 meses e está em terapia comigo. É um homem com muitas dificuldades sociais, entrando facilmente em pânico perante o conflito ou perante uma simples crítica. Nesse dia, entrou em pânico. Grandeevolução. Em situações anteriores idênticas, ter-se-ia isolado e teria recaído. Nesse dia, procurou-me, cambaleando de tonturas, cabisbaixo, com mão no peito e a proferir palavras de desespero “estou muito mal; não consigo; não aguento; não posso”. Mal respirava e os seus olhos reviravam-se como se fosse desmaiar. Apesar de se ter dirigido à consulta, o seu corpo apresentava sinais de fuga. Não me olhava, abanava a cabeça, o seu corpo pendia assimetricamente para um dos lados, sentando-se perto da porta. Com a mão no peito, soltava gritos de dor. Não tinha bebido e isso era extraordinário. Fi-lo sentar-se e olhar para mim, respirando. Não conseguia fazê-lo mais do que 2 ou 3 segundos. Em cada inspiração e expiração, o peito e o estômago doíam-lhe sobremaneira. Massajei-lhe o pescoço, dando-lhe suporte na testa. Incentivei-o a abrir os olhos e a respirar, enquanto lhe massajava o pescoço e os músculos dos ombros. Ele gritava de dor. Pedi-lhe para mobilizar os ombros e os braços, soltando gritos; de pé, pedi-lhe que fizesse tudo isso e soltasse as pernas também. Era excessivo. Ficava tonto e cambaleava. Fi-lo deitar-se e, com firmeza, segurei-lhe o pescoço com uma mão e, com a outra, trabalhei-lhe alternadamente os músculos do pescoço, do peito, do diafragma, incentivando-o a respirar e a abrir os olhos, olhando para mim. Olhei-o com muita compreensão e, numa voz firme e tranquila, incentivava-o a respirar e a olhar-me sem medo. O A. contorcia-se de dor e todo o seu corpo tremia, desde o maxilar, às mãos, braços e pernas. Enquanto se contorcia, era impossível abrir os olhos. Ele não podia ver o tamanho da sua dor. A minha voz, firme, tranquila e maternal, substituía o olhar. Ia-lhe dizendo que o frio era o medo a descongelar e que, no fim, o seu corpo ia aquecer. Expliquei-lhe, com muita tranquilidade, que o seu medo era muito grande e que era muito antigo e que era muito bom ele estar a descongelar. As dores do seu corpo deviam-se às fortes tensões crónicas musculares que, neste momento, estavam a ser atravessadas por ondas respiratórias mais intensas. Era importante segurá-lo com firmeza porque o pânico era tão intenso que parecia que o seu corpo se desfragmentava em agonia. Continuei a ajudá-lo a respirar enquanto lhe pressionava os músculos do pescoço, da base do crânio, dos maxilares, do peito e do diafragma. As tremuras continuavam, mas as lágrimas começaram a correr. O choro tornou-se mais fluído, embora ainda longe daquele choro que se parece com um rio de água corrente. E neste vai vem de lágrimas e gritos, o A. fala da culpa. Que estragou a vida dele, que era um fraco e que tinha muito medo de encarar as pessoas, que tinha vergonha, que tinha muita vergonha. Num ritmo contínuo, mas tranquilo, incentivava-o a respirar, pressionando-lhe os músculos, e dizia-lhe que ele tinha sido muito corajoso em vir à consulta, em não ter fugido, em ter encarado o medo. Que ele estava a tocar o seu medo mais terrível e mais antigo e que só é possível voltar a ter prazer, depois de atravessar o medo e a dor. E que eu acreditava que ele ia ser capaz. Eu só o deixaria ir embora depois de ele aquecer e se acalmar e ser capaz de olhar para mim, sem fugir com o seu olhar, para ser capaz de ver o seu medo e a sua tristeza profunda, e de ver também o resultado disso.
O seu corpo começou gradualmente a aquecer e a sua respiração tornou-se mais profunda. Os sons adquiriram uma tonalidade mais tranquila e o choro irrompeu como acontece a uma criança consciente da sua dor, da sua perda. Enquanto soluçava, olhava para mim e dizia “Bati no fundo”. Ajudei-o a respirar comigo, olhos nos olhos, transmitindo-lhe compreensão e confiança. Devolvi-lhe que a sua respiração estava mais fluida e profunda e que o seu corpo já não tremia e que os seus olhos estavam presentes e muito tristes. Nunca o tinha visto tão digno, tão presente! Já não sentia dor no peito e no estômago, ao respirar. De tempos a tempos, soluçava como uma criança depois de um grande choro convulsivo. E era gratificante ver que o seu diafragma respirava melhor, apesar da grande tensão que ainda tinha e que teria por muito tempo… ou até para sempre.
Fi-lo levantar-se e ficar em grounding, sempre mantendo o contacto visual comigo e respirando. Pedi-lhe que sacudisse o corpo, braços e pernas. Que soltasse as pernas intensamente e emitisse sons bem alto, olhando para mim. Grounding. Voltar a fazer os movimentos e os sons. Grounding novamente. Já não tinha tonturas. O seu olhar era outro. Brilhava e estava grande. Apareceram laivos de alegria e, com graça, voltou a saltar, como uma criança a descobrir o seu corpo. Ria-se e dizia que estava a gostar de fazer judiarias com o seu corpo. E tentava ousar cada vez mais. Em grounding, o seu corpo estava direito, como um homem íntegro.
Sentámo-nos e o A. falou do seu bem-estar. Que se sentia leve e que aquele aperto tinha desaparecido. E que já era possível olhar-me, sem vergonha. Agradeceu-me profundamente. Mais uma vez fiz-lhe a leitura do que tinha acontecido e ele percebeu que o poço que é cavado pelo medo e pela tristeza é o mesmo que se encherá de alegria. É preciso atravessar o medo e, depois do medo, não há mais medo.
No início da sessão, o A. encontrava-se no extremo esquerdo do espectro dor/prazer de que fala Lowen no seu livro “Prazer”. Depois desta sessão, que durou 2 horas, respirava melhor, os seus movimentos eram mais espontâneos e harmoniosos e o seu olhar estava vivo, alegre e presente. Sentia prazer e alegria. Terminou a sessão, falando do seu filho de 4 anos. Queria ser um bom pai e ter mais paciência com ele. Levei-o até ao espelho e sugeri-lhe que olhasse para si e cumprimentasse o novo homem. “Olá, A.! Olha para ti. Perdeste muito tempo. Ganha juízo. Tens um filho pequeno e és responsável. Muda de vida”, disse ele. “Vê como está diferente, A.?”, perguntei-lhe eu. “Estou. Estou mais vivo e já não sinto aquele aperto dentro de mim”.
Fiquei a observá-lo a ir-se embora. Movimentava-se pelo corredor, de costas direitas e cabeça erguida, e os seus braços acompanhavam harmoniosamente o ritmo das suas pernas. Em voz alta e bem colocada, despedia-se das enfermeiras e do médico daquele serviço. Notava-se uma vibração alegre e eu fiquei muito emocionada.
Na sessão seguinte, o A. entrou com visível alegria e vitalidade. Falou imenso, sempre mantendo o contacto comigo, e contou as grandes novidades da semana: que passou a ter mais fome e a comer com muito apetite e que as dores de estômago tinham desaparecido, que falou muito no serviço dele, e sem medo, que brincou com os colegas, que se fartou de brincar com o filho e que, pela primeira vez, tinha olhado para os seus olhos. Contou também que fez imensas judiarias com o corpo – alguns dos exercícios que tínhamos feito aqui e outros que ele e o filho inventaram. Rebolou no chão e cantou muito. Reconheceu que quando os fantasmas interiores se diluem, é mais fácil estar disponível para os outros. É como se visse melhor. Nesta sessão, falou de coisas que lhe davam prazer e que tinha abandonado durante anos, e que iria retomá-las. Levou-me umas pedras lindas, pintadas por ele, que simbolizavam as suas vivências prazenteiras e dolorosas. Queria muito olhar para elas para nunca mais se esquecer do que sofreu e do que lhe dá prazer de viver. Nesta sessão, fizemos alguns exercícios corporais porque ele estava muito alegre e queria mexer-se. Desatou a inventar exercícios e eu fui atrás. Entretanto, um dos movimentos era o famoso twist, o que nos inspirou aos dois. Fartou-se de dançar e cantar. Nos movimentos mais lentos, cantou canções da sua terra – os famosos cantares alentejanos.
Até aqui, pensei que este era um homem sem simbolismo. Com o descongelamento do medo, apareceu o seu lado alegre e criativo, o seu lado profundo e espiritual. O seu olhar mudou muitíssimo, passando a ver mais longe e mais fundo, passando a ver as pessoas e os objectos mais nítidos e a ver coisas que nunca tinha visto antes, como, por exemplo, o olhar curioso do filho. O olhar baço e esquivo transformou-se num olhar mais alegre e sem fuga. O seu estômago doente ganhara apetite e até engordara nos últimos dias. É incrível como tudo o que se passa nos órgãos internos, se reflecte nos olhos. Um corpo com dores é um corpo com medo. Todos os seus músculos externos e internos estavam espásticos, afectando o funcionamento dos seus órgãos internos e reflectindo um olhar baço e sem vida. Depois deste trabalho intenso, o funcionamento do seu organismo melhorou
substancialmente, reflectindo também um olhar mais suave e vital, em perfeita presença.
Este é apenas o início do degelo. Durante uns tempos, o A. saboreará o prazer da vitalidade e edificará um pouco mais a sua auto-estima. Estou consciente de que este é apenas o início de um trabalho longo e doloroso.
Foi muito importante fazê-lo olhar para mim. Nesse contacto, o cliente fica mais consciente do seu sentir. Fechar os olhos é não querer ver, é não querer sentir. Simultaneamente, o olhar empático, amoroso e tranquilo do terapeuta pode ser curativo e fazer o cliente perceber a outra dimensão da vida, que há pessoas capazes de amar e confirmar a sua existência. Entreguei-me muito a este trabalho. No final, os meus olhos estavam húmidos e senti-me mais humana. Respirava melhor e, quando caminhava em direcção a casa, senti os meus passos firmes, num movimento harmonioso e sem pressa. Perante a dor de um ser humano e perante o milagre da transformação tudo fica tão relativo!
A PELE TAMBÉM VÊ
O JM. é um homem de 35 anos, licenciado em psicologia, cego de nascença, com uma estrutura defensiva marcadamente masoquista e esquizóide. O trabalho com ele tem sido dificílimo e fascinante ao mesmo tempo. Tem exigido de mim uma enorme criatividade e flexibilidade. É, muitas vezes, difícil perceber se se deve trabalhar o contacto e a aceitação incondicional ou se é melhor confrontar as defesas masoquistas, sinalizando a sua hostilidade terrível. Um engano provoca um grande sentimento de incompreensão. Outras vezes, o confronto é necessário, mas desencadeia nele uma atitude manipuladora, de vitimização e tentativa de culpabilização da terapeuta “és uma mãe má”. O JM. tem um raciocínio extremamente lógico e racional, o que dificulta imenso o trabalho. Preciso de estar muito centrada para, a todo o momento, surpreendê-lo e ajudá-lo a tomar consciência das suas emoções, do seu verdadeiro self escondido por trás da sua enorme armadura. O medo esconde a raiva assassina e paraliza-o. Em termos contratrasferenciais, sinto uma grande impotência, e isso é riquíssimo. Faz-me mergulhar num trabalho de escavação profunda e de lapidação de um diamante em bruto. Outras vezes, é a hostilidade que esconde o medo e a vital necessidade de contacto. Aqui, preciso de estar disponível e de coração muito aberto, para não morder a isca que ele me lança para o rejeitar.
1 Comment
Eu estou emocionada com cada texto que leio, estou num trabalho terapêutico e corporal também, já tive bastante resistência e cheguei a ficar brava e sair da terapia mas retomei agora e vejo como eu preciso cada vez mais desse trabalho e de me descobrir. Hoje sou grata e amei ler esses relatos. Quero ter a oportunidade de ler mais.