Toda nossa vida existe dentro do nosso corpo. Ela se desenvolve através de sensações, reações e estímulos que o corpo emana. Viver é uma ação que acontece internamente. Nossos ossos, nervos, músculos e tecidos, manifestam a vida através de veias, artérias, células e núcleos que passam, repassam, conduzem sangue, energia, oxigênio e líquidos, numa operação incessante e maravilhosa minuto a minuto da existência de qualquer um.
Nos nossos desvios e desperdícios, no não ver e não enxergar a essência e as prioridades, deslocamos o olhar interno para o exterior e esquecemos de redirecioná-lo. E nos desviamos do caminho. Do interior. De acompanharmos esse tesouro e zelarmos por ele, que é a dinâmica do funcionamento de cada organismo.
Aí está a beleza da harmonia entre as partes e os órgãos. A cooperação, a ordem, que à semelhança da ordem do Universo, conduzem à saúde e à paz. Este é o princípio; que nosso dia-a-dia agitado nos retira, nos suprime, nos afasta.
A Análise Bioenergética, criada pelo Dr. Alexander Lowen, busca a promoção dessa integração, do olhar interno com o olhar externo.
Discípulo de Willhelm Reich, Dr Lowen, depurou e expandiu seus conceitos, tornando mundial a teoria que enfatiza o corpo e os processos energéticos. Corpo e mente passam a ser dois lados de uma mesma moeda. Indivisíveis.
A emoção manifesta-se no corpo e vice-versa. Os processos corporais têm reflexo na mente. Corpo sadio, mente sã.
A Análise Bioenergética diz que temos inscrito no nosso organismo toda a história de nossas vidas. Ao analista em Bioenergética cabe desbloquear pontos e locais que foram ficando acumulados de medos, raivas, dores, faltas e perdas. Esses bloqueios impedem a energia de fluir naturalmente, podendo, ao longo da vida, facilitar o aparecimento de doenças. Por exemplo, uma pessoa que reprime e engole sua raiva, pode bloquear os músculos da região do estômago, provocando úlcera ou gastrite ao longo do tempo.
A Bioenergética parte do pressuposto de que toda expressão é transformadora. Ou seja, tudo aquilo que expressamos, nos faz transformar a energia inicial. Raiva, medo, dor, tristeza, euforia, se não saírem de dentro, tendem a promover uma estagnação energética.
Então, a importância de estarmos buscando permanentemente uma sintonia com nossos corpos é a de podermos transformar os estados de espírito que o cotidiano tende a nos arrastar durante a vida.
Ou seja, a capacidade de podermos ir em busca da tranqüilidade, que nos permita estar, ao mesmo tempo, envolvidos e distantes. Precisamos ser capazes de atravessar as agruras da vida preservando a saúde dos órgãos de choque do nosso corpo.
Essa atenção ao corpo e ao que se passa com ele desenvolve a escuta necessária para empreendermos uma melhor comunicação recíproca.
Abre-se a porta para ampliarmos nossa interação com o mundo externo, com o outro, com os outros. Comunicação que nasce, necessariamente, na relação de cada um de nós com nós mesmos. Desta forma, o corpo emite sinais de tudo que precisa: água, comida, sono, descanso, sexo, carinho. Os sinais são expressos e enviados; embora muitas vezes estamos correndo, envolvidos com o externo e não percebemos que nem o atendemos. Não temos tempo para isto.
Quando sucessivos sinais são emanados e não existe escuta, o organismo vai diminuindo o seu poder de ouvir. O corpo então passa a ser constantemente desrespeitado.
A partir da escuta interior poderemos nos dirigir ao exterior, aos outros e desenvolvermos uma comunicação que nos permita realmente compreender o que o outro está dizendo ou querendo. A empatia, condição básica de um bom processo de comunicação, estará presente com mais facilidade neste momento.
Seja numa relação afetivo-sexual, numa relação profissional, amigável, fraterna ou familiar, é vital que possamos nos colocar no lugar do outro para tentar compreendê-lo.
A comunicação clara, envolve a possibilidade de podermos (e isto é um poder que temos) falar de nós e do que sentimos em vez de falarmos do outro. Este é um hábito herdado de gerações que, ao não terem com o que ocupar seu tempo, distraíam-se falando e observando os outros.
Falar de si, dos medos, das inseguranças, dos desejos, é bastante difícil. Mas isto poderá ser um treino competente, principalmente nas relações homens/mulheres.
Dentro das organizações, da mesma maneira, é importante buscarmos estar sempre em sintonia com os nossos pares, através dos canais de comunicação bem claros e transparentes.
Não devemos falar dos outros para quem quer que seja. Nem fazer fofoca.
Conflitos? Vá lá e resolva. Converse. Esclareça.
Não deixemos nossas cabeças ruminando maus pensamentos e raivas. Lembremos que existem dois tipos de estresse. Um, o audível, manifestado através do sofrimento e das doenças como a gastrite, a insônia etc.
O outro é inaudível, é aquele manifestado através dos pensamentos. Silencioso e invisível, mas repleto de raiva, ódio, desejo, destruição.
Então, em função desses aspectos, a busca da comunicação clara e efetiva é sempre um bálsamo capaz de nos conduzir para caminhos harmônicos e tranqüilos.
Esta tranqüilidade poderá ser praticada no dia-a-dia, pela nossa capacidade de nos entregar ao silêncio. Silêncio que, se for bem empregado e usado com autodisciplina, é capaz de nos entregar muitas das respostas que ansiosamente, às vezes, buscamos no mundo exterior.
Sentarmo-nos com a coluna reta, a língua no céu da boca, os ouvidos atentos aos sons do nosso corpo e da nossa respiração e da natureza.
Deixarmos a respiração acontecer, suave e rítmica.
Aquietarmos a mente, permitindo que os pensamentos possam passar como nuvens no céu. Prepararmo-nos.
Assim, as respostas virão. Aos poucos poderemos nos colocar em condições
de acessá-las e encontrarmos o que às vezes procuramos desesperadamente no mundo exterior. No externo.
A Análise Bioenergética, quando nos abre a porta para estarmos mais presentes em nossos corpos, facilita esse contato conosco, que é a base para o contato com o outro. No silêncio e na interiorização poderemos acessar o afeto que somos capazes de mobilizar e de nos dar. E este afeto, à medida que for generosamente desenvolvido, constituirá a base para podermos estender aos outros nosso carinho e nosso amor. É o próprio amor, capaz de remover montanhas e promover milagres, através de sua força ao ser colocado em prática.
Jayme Panerai Alves ( Psicólogo ) / Libertas Comunidade – Recife – jayme@libertas.com.br