Conselho Regional de Psicologia de Pernambuco – 2ª Região (CRP-02)
É com grande tristeza que o Conselho Regional de Psicologia de Pernambuco – 2ª Região (CRP-02) externa seu profundo pesar pela morte do psicólogo e professor Marcus Vinicius de Oliveira Silva. Com grande contribuição para a psicologia, o também conhecido como Marcus Matraga, deixa um enorme legado. Para elaboração desse texto contamos com a contribuição da psicóloga e professora Maria das Graças Victor Silva CRP-02/10500. Em breve, lançaremos uma série de reportagens especiais, publicadas em nosso site com depoimentos de outros profissionais sobre os ensinamentos deixados por Marcus Vinicius.
A história do professor Marcus Vinícius de Oliveira se inicia num momento histórico de mudança paradigmática da Reforma Psiquiátrica brasileira que vem acontecendo há 25 anos, a partir da Reforma Sanitária do Brasil. Ele foi um dos pioneiros junto a outros profissionais que criaram o movimento da Luta Antimanicomial que tinha como utopia construir uma sociedade sem manicômios. Neste campo, dedicou sua vida, até os últimos dias, para que a Reforma Psiquiátrica se efetivasse plenamente em meio a tantos questionamentos que ela provoca. Estabeleceu uma grande luta compartilhando com os profissionais de saúde a efetiva mudança que ainda se acha em curso como um grande desafio do presente e do futuro.
As ideias e a ação militante do professor Marcus, brutalmente assassinado na Bahia, representam uma contribuição histórica que devem ser reconhecidas e cultivadas pelos profissionais da psicologia e saúde coletiva e de áreas afins. Lutando por vários rumos, não apenas no espaço estritamente profissional, mas no vasto domínio dos direitos fundamentais do homem, nas várias frentes que formam o arco de conflitos das desigualdades, o professor Marcus, durante toda a sua vida tornou-se um defensor incondicional das causas dos oprimidos, figurando como um ícone a ser exemplificado como uma referência definitiva pela Psicologia Brasileira e Latino-americana.
Durante quase 20 anos de atuação no Conselho Federal de Psicologia, Marcus Vinicius desenvolveu vários projetos junto com seus companheiros, mudando definitivamente o cenário da Psicologia Brasileira. Destacamos algumas importantes ações: a inclusão da comissão de direitos humanos nos conselhos regionais de psicologia que foi responsável pela inserção da disciplina Direitos Humanos nos cursos de psicologia; Participação com fundador da União Latino-americana de Psicologia (ULAPSI); Criação do Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP), Organização dos Seminários Nacionais de Psicologia e Políticas Públicas; Participação ativa na produção da série didática ‘Não é o que parece: a psicologia na TV mostrando as dimensões subjetivas do cotidiano’, em parceria com o canal Futura; Participação na criação da articulação entre Psicologia e Assistência Social, resultando na atuação dos psicólogos nos CRAS e CREAS; Organização e participação como conferencista no Seminário Nacional de Psicologia das Emergências e dos Desastres, no Seminário Nacional: a questão da terra e os desafios para a psicologia e no Seminário Atuação do Psicólogo no Sistema Prisional; dentre outros.
Enquanto professor da Universidade Federal da Bahia, criou o Laboratório de Estudos Vinculares e Saúde Mental, onde desenvolvia o Programa de Intensificação de Cuidados a Pacientes Psicóticos.
Por fim, destacamos sua contribuição lecionando também nos cursos de pós-graduação, aqui em Recife, onde formou durante 10 anos inúmeros profissionais das áreas de Saúde Mental, Assistência Social e Pedagogia. Honrosamente esteve junto ao Conselho Federal de Psicologia, no Conselho Regional de Psicologia e na ABEP. Durante quinze anos, Marcus ensinou o que é uma ação militante e partilhada em defesa das lutas pela psicologia do Brasil.
Por estas e outras razões, nos associamos ao grande pesar representado pela perda prematura deste grande psicólogo que além de deixar sua presença marcante para a psicologia brasileira e latino-americana, permanece como exemplo e como causa que deve ser sustentada por todos nós.
Na sua luta morreu como um grande guerreiro, morreu de amor pelo outro. Tão generoso e tão grande era o seu coração como escrito por ele em um dos seus trabalhos: “Se quero o outro comigo, fraco, cansado ou louco, tenho que deixar sempre abertas as portas do meu coração…”.