22 – Título do trabalho
MOTIVAÇÃO E SENSIBILIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO:
A prontidão emocional do professor
Maria Christina de S. Soares
Pedagoga, Psicopedagoga (Educacional e Clínica), Terapeuta Corporal com formação em Análise Bioenergética e Terapia Reichiana pelo Ligare, Atendimento Educacional (Orientação de Professores, Alunos e Pais) e Clínico. Membro do IABSP (Instituto de Análise Bioenergética de São Paulo.) e do IIBA (International Institute for Bioenergetic Analysis – NY.). Formada em Hipnoterapia Ericksoniana, Coordenadora de: Grupos de Consciência e Sensibilização Corporal; Curso “Motivação e Sensibilização na Educação” e “Aplicação das Bolas Terapêuticas na Análise Bioenergética”.
Século novo, vida nova! Será verdade? Tudo indica que sim. Desde o último século a humanidade caminhou imensamente no estudo sobre o ser humano e neste início do século XXI, o desenvolvimento da psicologia, as novas descobertas da medicina e o avanço tecnológico, tem exigido dos profissionais de todas as áreas uma capacidade enorme de adaptação. Na busca por uma melhor qualidade de vida, torna-se de suma importância o aprofundamento dos estudos para unificar o corpo, a mente, a emoção e a espiritualidade do ser.
Concomitante a estes estudos, a medicina vem demonstrando que boa parte da falta de saúde é causada pela baixa carga de energia. A conscientização deste fato, acompanhada de um conhecimento maior a respeito dos cuidados com a saúde física, mental e emocional, está modificando os estilos de vida. O entusiasmo atual pelo movimento não nos parece mero modismo. Das mais diversas maneiras, as pessoas estão descobrindo que os mais ativos têm uma disposição maior para os desafios da vida, são mais confiantes e menos deprimidos em razão de possuírem uma carga maior de energia para novos projetos.
Quando crianças, esta carga energética se faz presente dentro do cotidiano. Não é raro ouvirmos expressões do tipo: “Que energia tem esta criança! Parece que nunca se cansa! As crianças de hoje são mais espertas que as de ontem!” Nas crianças os movimentos corporais são como momentos de aprendizagem agradáveis e prazerosos. É através deles que ela se relaciona com o mundo, suas emoções afloram naturalmente, porém, ao longo da vida perde-se o foco e somos induzidos a apenas praticar exercícios para competição e deixados de lado os movimentos espontâneos.
Para o profissional de educação deveria ser claro este processo; visto que o sucesso de seu trabalho em muito depende do desenvolvimento integrado do ser humano, procurando manter dentro da educação formal o movimento espontâneo do aluno. O professor, na sua formação, geralmente não recebe subsídios que o possibilite trabalhar com toda carga emocional que lhe é exigida no trabalho, nem o relacionamento interpessoal não é focado com sua devida atenção. Como resultado, encontrarmos profissionais insatisfeitos, desiludidos, frustrados, derrotados e com altos índices de estresse.
Objetivamente, o que colocamos em prática na vida é exatamente o que aprendemos, recebemos e sentimos. Na educação não é diferente, muito pelo contrário, passamos a tentar educar nossas crianças eliminando o que achamos que estava errado na nossa própria formação e procurando fazer o que achamos correto. Não estou me referindo a programa de ensino, estou focando a forma e como o professor transmite este conteúdo. Sua memória emocional, juntamente com seu corpo estará agindo em prol ou não de seus alunos.
A Teoria Reichiana e a Análise Bioenergética nos dá visão de que o ser humano, ao longo de seu crescimento, cria barreiras para conseguir suportar a carga que o meio exerce. Como todas as pessoas seus bloqueios, medos, sentimentos, crenças internas, e valores sociais estarão atuando durante suas aulas. Tendo consciência destas barreiras, o profissional de Educação não só a utiliza para seu beneficio pessoal, como também cria meios que possam auxiliá-lo a diminuir as pressões sobre os alunos e conseguir atingir a aprendizagem significativa.
Wilhelm Reich, em seus estudos, já alertava sobre estes pontos, quando se refere à praga emocional no desenvolvimento da couraça no indivíduo. Em suas formulações para a educação relata que se uma pessoa está emocionalmente bloqueada, ela será propensa a desenvolver idéias errôneas sobre como a criança deveria ser ou saber o que fazer. Para Reich, o problema real estava no bloqueio emocional e na ansiedade do educador. A pessoa é um ser único, que recebe todas os tipos de informações e as registra, e como forma de defesa desenvolve a sua couraça.
Neste foco de visão Reich denominou como auto-regulação a capacidade do ser humano ser flexível em suas ações. Ao estudarmos a auto-regulação, é importante que estudemos Summerhill. A relação de Neill com Reich traz uma amplitude na concepção do termo. O que antes era um método de ensino, passou a ser uma forma de educar com o objetivo de atingir a plenitude do ser humano, livre das pressões que a sociedade exerce.
Neill deixa claro, que para uma criança ser auto-regulada, os pais obrigatoriamente deverão sê-lo. Pais que não auto-regulados, não terão a menor possibilidade de educar seu filho dentro da auto-regulacão. Eis aí, um entrave para esta nova proposta de Educação. Como proporcionar condições de nossas crianças serem auto-reguladas, se nós adultos não o somos? Parece impossível.
É neste impasse que podemos nos beneficiar da Análise Bioenergética. Lowen partiu do princípio de que as pessoas possuem uma energia vital, mesmo que freqüentemente ela esteja restrita ou reprimida. Para reencontrar esta energia, faz-se necessário vivenciar e sentir os próprios estados, a própria condição física e emocional. Evitar um ritmo de vida sedentário e excessivamente intelectual é o caminho. Notamos que o dia-a-dia voltado às expectativas do sucesso ao invés de satisfação pessoal é um fator estressante e inibidor desta energia.
As manifestações emocionais no corpo e mente interferem no desempenho profissional do educador. A rigidez corporal, os distúrbios de postura, a falta de tônus, a respiração restrita e as tensões crônicas: como cansaço, angústia, raiva, estresse, insônia, medo, insegurança, nervosismo; enfim, um corpo que não se expressa, nem se movimenta livremente, são manifestações de um corpo encouraçado. O bloqueio de nossa auto-expressão revela-se, também, nas manifestações psicossomáticas como enxaquecas, resfriados crônicos, dores de estômago, entre outros…
Ao trabalharmos o educador em alguns aspectos, inerentes ao seu papel, estaremos fornecendo orientações básicas sobre suas emoções e as repercussões em sua vida pessoal e profissional; promovendo assim, uma forma prática para a auto-regulacão e construindo novas condições para sanar as dificuldades relacionadas com a aprendizagem de modo geral. Saber lidar com os imprevistos e as necessidades de adaptação por parte do aluno é fazer com que os professores vençam estas barreiras, tornando-o flexível nas ações a serem tomadas.
Acredito que, levar a estes profissionais, uma forma de aprender a integrar-se – corpo, mente e emoção – conseguiremos trabalhar o medo do desconhecido, do novo, do desafio, sem que haja prejuízo na aplicação de seu plano de aula.
Demonstro em temas o que foi desenvolvido e praticado com professores da Rede Estadual, Municipal e Particular de Ensino da região de Americana – SP, como base para a implementação da “Motivação e Sensibilização na Educação”:
? Movimento natural da aprendizagem: Integração do professor com o ambiente físico e com os companheiros. Trabalho voltado para as diferenças existentes entre aprendizagem tradicional e a real aprendizagem significativa. “ (…) podemos concentrar nossa energia tanto em nós mesmos quanto no mundo externo. Uma pessoa saudável pode alterar tais pontos de concentração fácil e rapidamente, de forma que quase ao mesmo tempo tenha consciência de seu corpo e do mundo que o envolve.”(Lowen, Alexander: Bioenergética. Summus Editorial. 6ª Edição. p.56)
? Auto-motivação – Uma questão de equilíbrio: Trabalho direcionado para as sensações e os órgãos dos sentidos. “ Se você é seu corpo e seu corpo é você, este poderá expressar quem você é. É a sua forma de estar no mundo. Quanto mais vivo for seu corpo, mais vivamente você estará no mundo.” (Lowen, Alexander: Bioenergética. Summus Editorial. 6ª Edição. p.47)
? Redescoberta da Criatividade – Percepção e Intuição: Grounding em todos os sentidos – corporal, emocional e intelectual. Redescoberta do potencial criativo do ser humano, independente de aptidão artística. “Num sentido mais amplo, o grounding representa o contato de um indivíduo com as realidades básicas de sua existência. A pessoa está firmemente plantada na terra, identificada com seu corpo, ciente de sua sexualidade e orientada para o prazer.” (Lowen, Alexander: Exercícios de Bioenergética – O caminho para uma saúde vibrante. Ed. Agora. 5ª edição.p.23)
? Educador – Um comunicador com essência: A comunicação como instrumento primordial na aprendizagem; atenção especial na comunicação não verbal, consciência da linguagem do corpo. “ O corpo não mente. Mesmo que a pessoa procure omitir seus verdadeiros sentimentos através de atitudes ou posturas artificiais, seu corpo denunciará a impostura pelo estado de tensão criado.” (Lowen, Alexander: Bioenergética. Summus Editorial. 6ª Edição. p.87)
? Os papéis que desempenhamos na vida – Postura Profissional e Pessoal: Reflexão e debates sobre o quanto “encorporamos” certos papéis na nossa vida, esquecendo de outros. Atenção especial para o papel de educador, que acompanha o professor inclusive nos relacionamentos familiares; já que “ a maioria das pessoas não sente o esforço ou a carga energética do papel que desempenham. O que efetivamente sentem é a fadiga crônica, a irritabilidade, a frustração.” (Lowen, Alexander.Medo da Vida – Summus Editorial. p.76)
? Relacionamento Humano – o “EU” e o “OUTRO”: A importância de saber relacionar-se com diferentes tipos de pessoas, o quanto podemos ficar envolvidos em nossas próprias “verdades”. Num educador “o fator que mais contará pontos será o seu modo de ser, de agir, de sentir, o seu comportamento social, seu senso de determinação, sua motivação, sua imparcialidade, suas atitudes, sua ética, sua percepção, seu equilíbrio e harmonia interna.”(Ferreira, Paulo Pinto.Treinamento de Pessoal.Atlas Editora. p.211)
? Educador – Incentivador ou Motivador?: A descoberta de que ninguém é responsável pelo crescimento e aprendizagem do outro; o aluno só aprende o que lhe é agradável e lhe parece importante. “Esse processo permite que a criança, jovem ou adulto, desenvolva uma percepção contínua entre o que acontece dentro e fora do seu corpo. Todas as atividades são estruturadas com o propósito de expressar e entender o seu EU subjetivo e desenvolver o autocontrole e auto-realização. Através de atividades que desenvolvem a concentração, iniciativa, intuição, memória, imaginação e criatividade, as pessoas serão estimuladas diretamente.”(Rozman, Deborah. Meditando com crianças – Editora Brasiliense. p.11)
? Auto-regulação: A busca por uma melhor qualidade de vida, através da flexibilidade da couraça, libertando-se de crenças internas. “A viagem da autodescoberta não acaba nunca; não há a terra prometida onde, finalmente, podemos chegar e ficar. Nossa primeira natureza nos escapará continuamente, conquanto cheguemos mais perto dela a cada momento. Um dos motivos para este paradoxo é o fato de vivermos numa sociedade altamente civilizada e técnica, que vai nos levando, a alta velocidade, para cada vez mais longe do ambiente em que se desenvolveu nossa primeira natureza”.(Lowen, Alexander: Bioenergética. Summus Editorial. 6ª Edição. p.93)
? Equilíbrio Energético – Desafiando o Presente: Percepção do corpo e retomadas dos exercícios realizados. Reflexão sobre a importância de estar bem consigo mesmo, para poder dedicar-se ao outro. Exercícios “Senso do Momento”. Descoberta de que relaxar não requer local e hora determinada, basta estar disponível e se permitir um descanso. A sensibilidade é a qualidade de uma pessoa que está plenamente viva. (…) esta sensibilidade depende de uma tranqüilidade interior que decorre de uma ausência de luta ou esforço. Esses são os valores que conferem à vida um sentido verdadeiro, pois são as qualidades que promovem a alegria.”(Lowen, Alexander. Alegria – a entrega ao corpo e à vida. Summus Editorial. p.219)
Após oito anos de trabalho, colhendo depoimentos dos professores, notamos que houve uma melhora significativa na aplicação do conteúdo, um melhor controle na disciplina de modo geral, e desta maneira conseguiram diminuir as barreiras existentes (podemos chamar de medo controlado) entre professor e aluno. Para minha alegria, muitos educadores mudaram, alguns até radicalmente suas posturas perante a vida e melhoraram seus relacionamentos pessoais e profissionais. Aos poucos tomam consciência da importância de terem um tempo para si, denotando que a atuação de cada um não restringe-se apenas à sala de aula, mas ao meio em que vivem e que a harmonia está presente em cada um de seus atos.
Minha maior satisfação é de poder levar a estes professores, que a clareza do conhecimento cognitivo, não é suficiente para se obter um bom desempenho. Descobrem também que relaxar não é um ato isolado, este pode ser realizado a qualquer momento e em qualquer lugar, inclusive trabalhando. Tornam-se consciente que o estresse é conseqüência de um comportamento sobrecarregado e desregrado, muitas vezes necessário, porém não por tempo indeterminado. Passam a ter consciência que estamos sujeitos a falhas, porém sem precisar carregar o peso da culpa e que a responsabilidade é inerente à ação e vem como forma natural na realização do trabalho. A busca de novos conhecimentos torna-se uma necessidade de acompanhar a evolução natural do ser humano, não uma obrigação. Lidar com estes fatos torna-os mais enraizados – com grounding.
Ao propormos uma nova atuação profissional, uma mudança de postura pessoal e uma redescoberta do potencial criativo de cada um, sabemos que o processo será lento e gradual.
Viver a vida viva com prazer é conseguir valorizar todos os seus momentos. Conseguir transmitir esta forma de encarar a vida é levar esperança e otimismo. É saber plantar para o futuro. É valorizar a Educação.
“Só num futuro distante, quando uma educação consciente tiver eliminado a forte contradição entre civilização e natureza, quando a vida bioenergética e a vida social do homem não mais se opuserem uma à outra, mas, ao contrário, apoiarem-se uma à outra e se complementarem, esta tarefa deixará de ser perigosa. Devemos estar preparados, pois esse processo será lento, penoso e exigirá muito sacrifício. Muitas serão as vítimas da peste emocional”. (Wilhelm Reich, O Assassinato de Cristo p.09)
Bibliografia:
Ferreira, Paulo Pinto.Treinamento de Pessoal.Atlas Editora.
Lowen, Alexander. Alegria – a entrega ao corpo e à vida. Summus Editorial.
Lowen, Alexander: Bioenergética. Summus Editorial. 6ª Edição.
Lowen, Alexander: Exercícios de Bioenergética – O caminho para uma saúde vibrante. Ed. Agora. 5ª edição.
Lowen, Alexander.Medo da Vida – Summus Editorial.
Neil, A.S. Liberdade sem medo (Summerhill). IBRASA. 31ª edição.
Rozman, Deborah. Meditando com crianças – Editora Brasiliense
Wilhelm Reich, O Assassinato de Cristo