Inibição emocional e doença
A afirmação de que sentimentos suprimidos são perigosos para a saúde, é um componente crucial para as teorias não-profissionais sobre as doenças. “Devido ao fato de eu engolir tudo, meu estômago fica doendo o tempo todo” é um exemplo de autodiagnóstico. Estas pressuposições originam-se de uma longa tradição científica. William James (1890), filósofo fundador da Psicologia Empírica, foi provavelmente o primeiro psicólogo acadêmico a achar que sentimentos suprimidos podem causar doenças físicas, preocupação e agitação interna. Mas William James, que também escreveu sobre questões religiosas, certamente conhecia o salmo 32, que diz: “Quando me mantenho silencioso, meus ossos envelhecem através de meu rugido interno o tempo todo”. Ele constatou que a pressuposição de que a supressão emocional tem um efeito de risco para a saúde era uma hipótese de validade histórica. Como se sabe, alguns anos mais tarde Sigmund Freud (1904/1905, 1942, pg 240) usou palavras semelhantes em uma análise sobre histeria relativa às emoções suprimidas: “Ele que tem olhos para ver e ouvidos para escutar pode se convencer de que nenhum mortal consegue manter um segredo. Se seus lábios estão selados, ele tagarela com a ponta dos dedos; a traição goteja-lhe por todos os poros”.
Wilhelm Reich (1933) considerou o que chamava de couraça muscular como uma realização física da repressão e da supressão na forma de atividade muscular utilizada para impedir estímulos emocionais suprimidos de serem transformados em ação. Assim, considerava os processos de supressão relevantes para numerosas doenças, especialmente as psicossomáticas. Em 1935, Helen Flanders Dunbar publicou muitos estudos de casos em que descrevia causas emocionais que, em sua opinião, estavam especificamente relacionadas a doenças físicas. Franz Alexander (1950) tentou, de maneira mais fisiológica, descrever em seu trabalho padrão sobre “Medicina Psicossomática”, as conseqüências do bloqueio de emoções como a causa central das doenças psicossomáticas. Um vasto campo de pesquisa, inclusive muitos métodos diferentes e artigos empíricos (ver as seguintes monografias e antologias: Traue & Pennebaker, 1993; Pennebaker, 1995; Vingerhoets et al, 1997; Traue, 1998) foram originadas nas raízes históricas acima mencionadas. Conseqüentemente, neste campo de pesquisa ninguém pergunta se a inibição de sentimentos tem efeito nocivo ao organismo humano, mas antes por que e como os processos estruturais, fisiológicos, endócrinos, imunológicos ou subjetivos das doenças estão relacionados ao processamento de emoções e, particularmente, à inibição delas.
Aspectos teóricos do comportamento emocional
Há aproximadamente vinte anos foi constatado que a área da Psicologia carecia de pesquisas sobre emoções. Nesta época, Bruce W. Heller (1983, pg 190), ao criticar o domínio das abordagens comportamental e cognitiva, ironicamente lamentou que Descartes não tenha dito: “Sinto, logo existo”, mas que tenha preferido o processo do pensamento, introduzido assim a filosofia segundo a qual as emoções eram menos importantes do que as cognições. Ele também supôs que seria difícil objetivar emoções para uma pesquisa empírica e experimental, e que, portanto, seria melhor evitá-las.O cavalo da emotividade desapareceu dos estábulos durante séculos. Ignorava-se, então, que as emoções são fortemente influenciadas pelos pensamentos e vice-versa, e que esses dois processos são inter-relacionados e inseparáveis.
Hoje não é mais assim. As teorias atuais afirmam que as emoções representam uma organização complexa dos seguintes elementos distintos:
1) Expressividade facial, de gestos e do corpo inteiro.
2) Avaliação cognitiva dos estímulos internos e externos.
3) Ativação fisiológica e endócrina.
4) Um plano cognitivo de ação e uma tendência de ação.
5) Experiência subjetiva e representação lingüística/verbal.
Assim como um rio muda seu curso e fluxo com o tempo, é preciso se levar em conta o processo cronológico quando se discute sobre a fenomenologia das emoções. Emoções são um processo. Elas separam a reação comportamental de seu estímulo através da substituição de padrões reflexos fixos de estímulo-resposta, ou mecanismos desencadeadores instintivos inatos por respostas comportamentais flexíveis. Desta maneira, as respostas reflexas fixas são substituídas por processos de avaliação cognitiva de estímulos e situações. A expressão facial que acompanha o comportamento emocional, tem um papel central na interpretação das possíveis tendências de ação e intenções do indivíduo a serem comunicadas em seu meio social. Somente através dessa função, o comportamento emocional ganha sua função reguladora não apenas interna, como também entre indivíduos. Com base na complexidade dos processos emocionais acima descritos, as funções e modos de funcionamento podem derivar de emoções que nos possibilitam classificar o papel da inibição emocional (ver Traue 1988 e 1999).
As emoções dão significado subjetivo:
Emoções são reações a situações e que dão significados individualmente relevantes a estas situações. Aqui, tais situações têm que ser consideradas em sentido amplo e incluem padrões de estímulo externo (físico, social e de informação) e interno (interoceptivo e mental). Para alguns padrões de estímulo, os significados emocionais são mais uniformizados, isto é, mais determinados filogeneticamente do que para outros. Entretanto, algumas situações complexas ou ambíguas só podem ser emocionalmente avaliadas por uma análise cognitiva. Quando ocorrem incidentes intensamente estimulantes durante experiências traumáticas, a possibilidade de avaliação cognitiva pode ficar bastante reduzida.
As emoções auxiliam a comunicação
As emoções ajudam o indivíduo a adaptar-se ao meio ambiente. As estruturas e funções emocionais desenvolveram-se em um processo de evolução que abrange não só a evolução do sistema nervoso, como também a vida social humana. Embora filogeneticamente novas estruturas não levem em conta as estruturas cerebrais mais antigas, elas não neutralizam completamente sua função. Por conseguinte, o comportamento emocional baseia-se nas reações significativas vitais que são diretamente experienciadas e que contêm um impulso forte para agir. Este ímpeto para agir só pode ser controlado até certo ponto. Como o processamento emocional desenvolveu-se filogeneticamente lado a lado com a vida humana social, a existência de um ser humano depende da expressividade emocional de seus semelhantes humanos.
O comportamento emocional baseia-se em estruturas neurobiológicas:
Todo o sistema nervoso central e periférico está envolvido com os processos emocionais, assim como as funções mentais estão envolvidas com experiências emocionais por intermédio de percepção, atenção, ativação, consciência e linguagem. Entretanto, as estruturas neurobiológicas que alojam estas funções podem facilitar aspectos muito específicos da experiência emocional. Parte da estrutura nervosa central, conhecida como sistema límbico, é importante principalmente para o processamento de emoções distintas. O sistema límbico integra “input” sensorial e informação do córtex com unidades emocionais. Estudos recentes enfatizam que a informação sensorial pode ser processada mais rapidamente quando passa pelos circuitos do tálamo dentro da amígdala, do que pelo próprio córtex. Isto significa que certos estímulos podem levar a reações emocionais sem serem processadas conscientemente. O fato de que a qualidade da reação emocional depende das estruturas neurobiológicas reflete-se também pela predominância das emoções negativas que são obviamente mais necessárias para a sobrevivência dos seres humanos do que as emoções positivas como curiosidade, alegria e amor.
As emoções podem ser tanto um processo quanto um estado:
As emoções são produzidas principalmente quando uma informação é processada. O processamento de padrões de estímulos externos é estruturado hierarquicamente da sensação à cognição. As emoções também podem surgir de estímulos internos (por exemplo, fantasias, idéias ou recordações). Como os estímulos internos sempre contêm informação emocional, as emoções são produzidas diretamente. Desta maneira, as emoções podem sempre ser reproduzidas pela memória, independentemente de quando elas ocorreram primeiro na vida de uma pessoa.
Emoções são físicas e mentais:
Os processos emocionais são diretamente correspondentes à atividade do sistema nervoso central autônomo e motor, sendo que as regulações centrais são mais importantes do que a realimentação periférica. Teoricamente isto deriva da função comunicativa dos processos emocionais. Uma evidência empírica disto vem da estabilidade e do acordo interindividual entre o comportamento expressivo emocional e os nervos autônomos correlatos. Os padrões de reação imunológica e endócrina diferenciam-se entre emoções negativas e positivas, mas não dentro dessas duas classes emocionais.
O comportamento emocional está sujeito à auto-regulação:
O controle das reações emocionais por supressão ou inibição tem um efeito mais forte no comportamento motor, especialmente no comportamento emocional expressivo, do que nos outros componentes da emoção e modula-o qualitativa e quantitativamente. Até os processos sócio-cognitivos têm influência substancial neste componente da emoção. Emoções secundárias, como a vergonha e a culpa, dependem de uma capacidade do indivíduo antecipar as conseqüências de seu comportamento ou de sua reação emocional.
As raízes históricas do termo “inibição”:
Antes de passarmos à inibição de emoções, é preciso que se faça um breve resumo da palavra “inibição” na história científica moderna. Há muitos anos, o historiador Roger Smith, professor do Instituto de História Científica na Universidade de Lancaster, discutiu em seu impressionante livro “Inibição” (1992), a origem científica do termo. Smith sustenta que a inibição é uma questão central que permeia as artes, as ciências sociais e as teorias científicas, e que é fundamental dentro de uma concepção sistêmica de auto-regulação humana. No final do século XIX houve uma substituição de modelos biológicos de corpo e alma para teorias sistêmicas de regulação humana. Antes disto, a palavra inibição era usada no sentido de supressão, como um elemento crucial ao estabelecimento de ordens hierárquicas em estruturas sociais, bem como o poder que a alma tem sobre o corpo. Na neurofisiologia de C. S. Sherrington (nascido em 1857), na teoria do sistema nervoso mais alto de I. P. Pavlov (nascido em 1849), e na psicanálise de Freud (nascido em 1856), a palavra inibição tinha um papel central. Estes três especialistas não eram somente contemporâneos, como também tinham treinamento em pesquisa experimental e começaram suas pesquisas em uma época em que foram feitas descobertas importantes no campo da neurofisiologia.
Os três cientistas, Sherrington, Pavlov e Freud desenvolveram o conceito de inibição em diferentes contextos científicos. Estes contextos tinham em comum o postular forças de ativação e de inibição, e elas descreviam mecanismos reguladores de equilíbrio ou homeostase. A idéia de adaptar o indivíduo a condições ambientais diferentes e a idéia de comunicação entre sistemas inteiros e parciais, fazem parte deste contexto. Considera-se disfuncional o domínio de influências inibidoras em um nível neuronal, nervoso central ou mental. A teoria fisiológica da inibição foi transferida a conceitos gerais psicológicos e sociais. Estes pressupostos inicialmente teóricos (e empiricamente baseados) foram popularizados e transformados, de modo que as pessoas com disfunções de regulação foram caracterizadas como neuróticas, psicóticas e fisicamente doentes. Portanto, mesmo em “teorias” informais considera-se que a pessoa do tipo inibido seja socialmente perturbada, desprovida de imaginação no seu mundo intelectual, com desvio de comportamento e propenso a desordens psicossomáticas.
A inibição de emoções
Na tradição da cultura ocidental, as ações baseadas em sentimentos são consideradas doentias. Os pais tentam ensinar seus filhos, logo depois que nascem, a lidar com os sentimentos de maneira culturalmente apropriada. Os livros de orientação aos pais estão cheios de sugestões de como fazer com que os bebês abandonem suas manifestações de desprazer. Estes livros dizem mais ou menos que “os pequenos choramingas” devem mostrar seus sentimentos do modo como os adultos acham que seja apropriado. É aceitável que um bebê chore porque está com fome. Os protestos de um bebê que não está com fome não são aceitos tão facilmente, e pode ser muito incômodo, especialmente à noite, quando os pais querem dormir. Os pais esperam que seus filhos de mais ou menos três anos de idade não se recusem a ir para a escola maternal, só porque eles prefeririam ficar com os pais. Mais tarde, as crianças aprendem a não destruir os brinquedos umas das outras, não riscar carros, não usar de violência física quando discutem. Resumindo, aprendem a regular seus sentimentos por conta própria.
Como jovens adultos, descobrem que suas necessidades e expressões emocionais estão conflitantes com seu grupo social e aprendem a controlar suas emoções antecipando as conseqüências positivas e negativas do que expressam. Algumas pessoas são bem-sucedidas em controlar-se emocionalmente – isto é, na harmonização dos motivos pessoais e de seu sistema de valores pessoais e culturais – enquanto outros obtêm pouco ou nenhum sucesso. O autocontrole emocional que serve a vida social dentro de um grupo pode ter conseqüências negativas para um indivíduo, pois a inibição de sentimentos tem seu preço. Neste capítulo discutiremos como a inibição de emoções afeta a saúde individual.
Já que não há padrão ideal de autocontrole emocional para a vida social dos seres humanos, surgem muitas questões: 1) De onde se originam as regras para o comportamento emocional de uma dada comunidade social?; 2) Quem decide qual expressão emocional é apropriada ou não?; 3) Quais as mudanças que podem ter ocorrido no curso da história?
Com uma visão crítica sobre as tradições sociais da expressão emocional, Stephan L. Chorover escreve em seu livro “Da gênesis ao genocídio” que somente alguns seres humanos estão sempre em posição de manejar suas próprias emoções, que este manejo é sempre feito em um contexto social, e que é freqüentemente usado para regular o comportamento de outros seres humanos (1979, pg 16). Neste sentido, a inibição emocional pode ser parte de uma estratégia de comportamento geral. É muito provável que haja uma disparidade social com respeito à inibição emocional.
Civilização e comercialização de sentimentos
O controle emocional é sempre feito em um contexto social definido pelas condições históricas, políticas e sociais. Elias (1936) analisou as mudanças sociais de se lidar com as emoções abrangendo a época histórica entre a Idade Média e a Modernidade. Uma das idéias básicas de sua teoria inspiradora discute as feridas que podem ser causadas pelo redirecionamento da expressividade emocional interpessoal por uma implosão no self individual. Parte das tensões e paixões que em tempos antigos explodiriam em uma luta interpessoal, devem, atualmente, ser administradas por e dentro do indivíduo. Embora os impulsos e os afetos passionais não possam ser manifestados no mundo externo, eles freqüentemente lutam, de forma não menos violenta, dentro do indivíduo. Esta luta interna semi-automática nem sempre tem um final feliz. A autotransformação que a vida em nossa sociedade requer nem sempre leva a um novo equilíbrio no mundo conflituado dos impulsos.
Norbert Elias (1936, pg330 f.) formula três argumentos centrais relativos ao autocontrole emocional:
1) Quanto mais o acúmulo de poder econômico e político aumenta, mais a expressão do comportamento emocional é restringida.
2) A boa educação como forma de comportamento emocionalmente controlado se estendeu da nobreza ao público em geral, como um sinal de supressão política e social. Os modos à mesa e as tradições de vida mudaram concomitantemente ao controle da agressividade, enquanto o limiar da vergonha diminuiu consideravelmente. Vociferar, bater, gritar e sinais naturais da digestão como soltar gazes, arrotar e cuspir foram sendo progressivamente considerados indecentes. Devido à internalização destas novas regras de comportamento, o controle e a supressão deixaram de seu um empenho externo para ser um empenho interno.
3) O processo de aumentar o controle do afeto aguçou a separação entre o mundo privado e o público, e pode ter alcançado seu auge temporário na atual sociedade de classe média. Banheiros e quartos de dormir tornaram-se privativos, de modo que muitas emoções só podem ser experienciadas e vividas dentro destas áreas bem restritas. Enquanto na Idade Média os banheiros e quartos comuns eram a regra, atualmente são a exceção.
Wouters (1986) afirma que as barreiras sociais diminuídas entre pessoas e grupos de pessoas requerem crescente autocontrole dentro da vida social, e que, embora as crianças raramente tenham uma educação autoritária que lhes ensine limites rígidos, elas serão, mais tarde, cobradas a exercer um elevado grau de autocontrole. Uma sociedade exige, em geral, de seus membros o mesmo grau de controle emocional em reações de estresse. Assim, a disponibilidade de drogas psicotrópicas e de intervenções psicoterápicas tais como meditação, relaxamento, terapia cognitiva e hipnose, que podem amortecer ou reduzir reações emocionais, podem todas ser interpretadas como sinais para a necessidade de inibição emocional. Na Alemanha, por exemplo, os médicos de clínica geral prescrevem aproximadamente uma caixa de drogas psicotrópicas por habitante anualmente.
Na década de 50, o cientista social C. Wright Mills percebeu que as pessoas estavam ficando mais e mais absorvidas pelo mundo do trabalho: “A parte de suas vidas profissionais na qual poderiam agir ‘livremente’ usando sua própria personalidade está agora organizada, bem como transformada num modo de vida, mas, ao mesmo tempo, em instrumento servil/subserviente para a distribuição da carga.” (1956, pg 45). Durante 150 anos de industrialização, o trabalho era dominado pela produção de bens mais do que hoje, onde o foco cada vez mais se coloca nos negócios e na prestação de serviços. Entretanto, o mundo do trabalho esta agora mais do que nunca interessado em subordinar ou explorar antigos aspectos particulares da personalidade das pessoas que trabalham, cujos sentimentos individuais e particulares se tornam comercializados. Esta comercialização refere-se ao uso dos sentimentos tanto para o lucro, quanto para o controle dos sentimentos.
Muitos locais de trabalho e algumas vezes até de moradia são mais ou menos estruturados hierarquicamente e funcionam de acordo com sistemas de controle governamental, incluindo regras que foram estabelecidas por autoridades e que têm que ser seguidas por subordinados. A maioria das instituições segue este esquema mesmo que, de tempos em tempos, sejam feitas tentativas para convertê-las nos chamados sistemas centrados na pessoa. Especialmente em tempos de crise econômica, há uma tendência para a quebra de regras normalmente estabelecidas firmemente na burocracia. Supõe-se que o aumento do controle sobre as emoções e a comunicação entre os empregados subordinados também afete sua criatividade, causando, dessa maneira, perdas à instituição. Mesmo que as conseqüências de liberar poder dinâmico de trabalho sejam muitas vezes drásticas – por exemplo, quando estruturas completas de administração são dissolvidas, a estrutura real de poder e as hierarquias entre empresas e empregados subordinados ou superiores e subordinados permanecem intocados. Estas mudanças ocultam/dissimulam freqüentemente o conflito de interesses e a estrutura de poder. Tais condições não ajudam os indivíduos a lidar com seus próprios sentimentos e os dos das outras pessoas. As regras mais importantes nos sistemas de controle governamental e estruturas hierárquicas são;
1) Os sentimentos de proprietários e superiores são mais importantes do que os do subordinados. Os sentimentos dessas pessoas têm que ser rigorosamente observados, analisados e reconhecidos, e têm que ser atendidos. Os sentimentos de uma pessoa comum são menos importantes e precisam ser controlados. Sua expressão aberta poderia ser danosa e por em risco a segurança de alguém.
Estas regras também se aplicam a instituições que se orgulham de seu liberalismo. Tolerar o comportamento emocional das pessoas de posição mais alta durante debates profissionais requer que o pessoal de posição inferior suprima seus próprios sentimentos de frustração e raiva. Sem poder demonstrar isto com números, estamos convencidos de que este trabalho emocional contribui consideravelmente para o estresse de nossa vida profissional.
Outro aspecto de se controlar os sentimentos no contexto de trabalho precisa ser mencionado. Arlie Hochschild pesquisou o trabalho emocional em diferentes esferas de vida – particulares e profissionais – especialmente de aeromoças e de cobradores de impostos. Os dois grupos profissionais são notadamente caracterizados por usar um tipo específico de trabalho emocional e de sentimentos em sua atividade profissional. Nos programas de treinamento, esses profissionais são sistematicamente ensinados a como usar seus sentimentos.
Hochschild define sociologicamente trabalho emocional como uma administração de sentimentos que visa à formação de expressão de corpo e rosto passíveis de demonstração pública, e à supressão de expressões faciais indesejáveis (Hochschild, 1983).
Trabalho emocional “requer mostrar e suprimir sentimentos, com o intuito de preservar a atitude externa que tem o efeito desejado nas outras pessoas” – esta afirmação refere-se aos efeitos positivos desejados nos passageiros de vôo, e os efeitos negativos, como o medo, nas pessoas que são obrigadas a pagar imposto. Como resultado de seu estudo, Hochschild confirma que o trabalho emocional tem aumentado em quase todas as profissões de serviços comerciais, administrativos e sociais, e que, por causa disso, está surgindo uma nova dimensão de seres humanos alienados dos produtos e dos resultados de seu próprio trabalho. Hochschild, baseada em auto-apresentações em entrevistas detalhadas, formou quatro grupos com estratégias diferentes de trabalho emocional: (1) Os membros do grupo instrumentalmente orientado exigem ser pessoas ativas que se utilizam de sentimentos na profissão, mas embora usem-nos instrumentalmente, não acreditam que suas personalidades mudariam de verdade. (2) os membros do segundo grupo descrevem-se como adaptados a sua própria emocionalidade. Expressam sentimentos específicos quanto à situação, porém guardam seus verdadeiros sentimentos particulares. (3) Um terceiro grupo de pessoas observa uma mudança em seu comportamento emocional sob a influência do trabalho emocional. Hochschild cunhou a designação grupo emocionalmente deformado para eles. Eles se adaptam gradualmente às demandas profissionais. (4) Finalmente o quarto grupo adota uma adaptação ativa com respeito às demandas profissionais de seu trabalho. Conforme a situação, eles tentam mudar, suprimir seus sentimentos, ou “realmente” criar sentimentos necessários.
A expressão trabalho emocional se aplica especialmente aos terceiro e quarto grupos. Aqui, surgem a maioria das deformações pessoais e o maior estresse causados pelo manejo de sentimentos. Como trabalhadores emocionais, os seres humanos não apenas são alienados dos resultados diretos de seu próprio trabalho, como também de si mesmos, já que nada na vida emocional interior de alguém está mais diretamente conectado a sua própria personalidade do que os sentimentos pessoais. Trabalho emocional em serviços sociais e comerciais é potencialmente efetivo e profissional uma vez que ninguém queira interagir com pessoas irritáveis. Mas, qual é o preço deste trabalho emocional quando as tensões internas crescem para enfrentar as demandas profissionais no autocontrole emocional?
Outro indicador de uma comercialização crescente da emocionalidade humana, particularmente nos países do ocidente neocapitalista, é o fato de que os sentimentos reais estão se tornando um bem interpessoal escasso. Nunca houve antes tantas ofertas de especialistas em psicologia para ajudar seus semelhantes seres humanos a entrarem em contato consigo mesmos e com seus próprios sentimentos autênticos. Estas ofertas referem-se à vida profissional tanto quanto à particular. Elas são resultado da experiência de que a manipulação de emoções paga um alto preço social de uma distância crescente entre o indivíduo e seu self emocional. É verdade que o trabalho emocional é necessário para a vida social humana, mas as emoções não devem estar à mercê da comercialização. Na mesma medida que a comercialização está se alastrando, a experiência e o partilhar dos sentimentos autênticos serão forçados a recuar e ir desaparecendo mais e mais da vida cotidiana interpessoal.
Diferenças individuais na inibição das emoções
As pessoas diferenciam-se consideravelmente quanto à amplitude de seu comportamento emocional, o qual desenvolve diferentes funções. O comportamento expressivo funciona como um sistema de sinais interpessoais, usado para comunicar avaliações emocionais de situações ao meio social, e está bastante envolvido na regulação do comportamento social. O feedback facial ao comportamento expressivo fornece informações essenciais à avaliação das situações. Se o comportamento expressivo for inibido, a regulação do comportamento social fica perturbada, e o indivíduo fica privado de uma fonte essencial de informações para a avaliação de situações. Alguns estudos, conduzidos de diferentes perspectivas, mostram que o comportamento emocionalmente inibido tem que ser considerado um fator de risco, que pode originar e manter desordens psicossomáticas. Ele é um fator componente de um modelo de saúde e doença, o qual delineia como trajetórias as interações bio-psicossociais entre a inibição emocional e as desordens de saúde (ver também Traue 1988). Aqui, a inibição do comportamento emocional é classificada em diferentes tipos que influenciam o curso das doenças, dependendo da intensidade da desordem emocional.
Tipologia da inibição emocional
A inibição do comportamento emocional é uma ação complexa que não pode ser reduzida a um simples processo, visto que o comportamento emocional em si já é muito complexo. De acordo com Kagan et al. (1988), a inibição emocional baseia-se em uma tendência genética; porém, a socialização regula bastante o desenvolvimento da emocionalidade, especialmente quanto ao comportamento expressivo.Por fim, a cognição que emerge quando se lida com situações estressantes precisa ser integrada em uma teoria de inter-relação entre a inibição e a doença, já que a ação emocional depende de processos cognitivos, e a representação nervosa central dos autoconceitos e situações é mediada cognitivamente. As conexões entre a emocionalidade inibida e os processos da doença são apresentadas por um modelo de saúde e doença, que descreve os traçados neurobiológicos, sócio-comportamentais e cognitivos entre a inibição emocional e a doença.
Podemos distinguir quatro tipos de inibição emocional (Traue 1998, Traue & Deighton 2000, Traue 2001)*:
1) Inibição genética
2) Inibição repressiva
3) Inibição supressiva e
4) Inibição enganosa
A INIBIÇÃO GENÉTICA da expressividade emocional descreve comportamento de evitação, afastamento social e medo de estranhos. A suposição de uma inibição geneticamente determinada baseia-se na observação de crianças em estágios diferentes de desenvolvimento ; elas exibem diferenças individuais consideráveis no comportamento expressivo emocional, que se correlacionam com a hiper-reatividade autônoma (Field et al.1982). Crianças pequenas, quando confrontadas com situações desconhecidas e com estímulos ambientais novos mostram diferenças claras de comportamento. Aproximadamente 15 a 20% das crianças saudáveis entre as idades de 1 e 2 anos têm medo de situações novas, evitam novos estímulos e são consideradas inibidas em seu comportamento. Cerca de 25 a 30% demonstram o padrão oposto, e são consideradas desinibidas. A base neurobiológica destas tendências comportamentais é analisada mais detalhadamente na seção seguinte. De acordo com Kagan, grande parte do comportamento inibido é herdada. Contudo, quanto mais velhas estas crianças vão ficando, menor se torna a influência genética na expressividade emocional. Além disso, tem se demonstrado que há um fator hereditário mais forte no grupo das crianças extremamente inibidas; assim, quanto mais exagerada a inibição, maior a base biológica de comportamento.
As pessoas inibidas também são classificadas como tímidas. Os especialistas se referem à inibição genética quando alguém anseia por contato pessoal mas é inibido, e não quando alguém está cansado, desinteressado ou tem preguiça e, portanto, não procura por contato. Não é uma questão de evitação ativa de contato, visto que isto aconteceria com um comportamento diferente, mas antes, de evitação passiva. As pessoas com inibição genética podem achar atrativas as situações não-sociais, e evitarão contato pessoal devido ao seu medo de punição, ou por antecipar a frustração.
A inibição genética pode ser observada em cerca de 10 a 15% de todas as crianças nos dois primeiros anos de vida, e é considerada uma característica que se torna mais e mais estável quando elas ficam mais velhas. Crianças e jovens inibidos demonstram características neurobiológicas especiais. O comportamento inibido que, em sua origem, é determinado geneticamente, interage com condicionamento e estresse e pode, então, ser intensificado ou reduzido por certas condições ambientais. Crianças expressivamente inibidas nos primeiros meses de vida terão problemas de relacionamento com seus cuidadores. Assim, é muito provável que estas crianças experienciem uma certa falta de cuidado, e de respostas menos positivas a seu comportamento.
A INIBIÇÃO REPRESSIVA do comportamento emocional ocorre quando uma pessoa não consegue experienciar ou tolerar inteiramente os episódios emocionais com todos os seus aspectos psicológicos, sociais e cognitivos. A terminologia dos mecanismos de defesa abrange palavras como cisão, negação, dissociação e repressão. Na inibição repressiva, os componentes psicológicos e subjetivos do comportamento emocional serão reprimidos, e os aspectos cognitivos serão enfatizados. Como os componentes fisiológicos não estão mais integrados ao comportamento, aquilo que motiva esse comportamento emocional expressivo também diminui. As conseqüências nefastas deste processo repressivo são uma ampliação da ativação psicológica, endócrina e imunológica e uma falta de enfrentamento. Em situações estressantes, isto leva a grandes reações psico-fisiológicas e enfrentamento ineficaz. (Schwartz & Kline 1995).
A INIBIÇÃO SUPRESSIVA acontece quando uma pessoa experiência episódios emocionais completa e conscientemente mas, por alguma razão, suprime-os intencionalmente, total ou parcialmente. Essa supressão pode ser arbitrária ou condicionada à socialização. Como resultado da supressão pode ocorrer uma ativação fisiológica semelhante à inibição repressiva, a regulação social pode ser perturbada pela falta de expressividade e o processamento cognitivo pode ser incompleto. A supressão da experiência emocional pode se referir a aspectos diferentes do comportamento emocional. O esforço para suprimir os componentes cognitivos da experiência emocional conduz a um aumento de atenção com respeito a esses elementos cindidos do comportamento emocional, o que resulta paradoxalmente em um aumento do foco cognitivo nos itens suprimidos. O processamento de emoções negativas estará prejudicado pela inibição supressiva, mesmo se uma pessoa estiver consciente dessa supressão, visto que o comportamento de enfrentamento potencial está ausente. Gross & Levenson (1993) apresentaram várias cenas de filmes mudos a sujeitos de um experimento (uma cena imparcial de filme, com um parque, e duas cenas médicas, mostrando pele queimada e uma amputação) e verificaram os efeitos da inibição supressiva. Por tentativas anteriores, a equipe de pesquisa sabia que as duas cenas aversivas do filme eram essencialmente consideradas repugnantes e sempre provocavam comportamento não-verbal análogo. Foi pedido à metade dos sujeitos que não demonstrassem seus sentimentos. Como se poderia esperar, os sujeitos a quem foi dada a instrução da “inibição”, puderam controlar sua expressão facial. A atividade somática sob a forma de toques no próprio rosto e movimentos corporais ficou significativamente mais reduzida. A supressão deliberada da expressão emocional levou a um aumento da excitação simpática. A taxa da aversão subjetiva diminuiu levemente, mas as da raiva, sofrimento, mágoa, constrangimento e tensão tenderam a aumentar. Desprezo, um sentimento que é bastante semelhante à aversão, também aumentou significativamente.
O engano, como um tipo de inibição emocional, é referente a quando estamos erroneamente informados sobre a experiência emocional subjetiva de uma outra pessoal. A INIBIÇÃO ENGANOSA expõe uma estratégia em lidar com as emoções e geralmente refere-se à comunicação de conteúdo emocional ou a comportamento não-verbal. A inibição enganosa geralmente é incompleta, mas mesmo assim exige uma força psicológica considerável, que pode ser manifestada em excitação vegetativa durante as tentativas de engano. Outras conseqüências do engano são o processamento de incidentes negativos e o apoio social restrito, que pode ser até mais problemático. Buck (1984) diferencia três tipos de engano: o não-emocional, o por estresse e o emocional. Como o engano sem qualquer fundo emocional não é reconhecido pelo comportamento, nem causa nenhuma reação fisiológica, não nos interessa aqui. Já os enganos por estresse e o emocional em geral são de interesse fundamental. Se o engano vem acompanhado por um conflito, suas manifestações de comportamento serão facilmente reconhecidas. As pessoas piscam mais freqüentemente, demoram em responder uma pergunta, limpam a garganta mais vezes, falam mais devagar e quando falam, têm mais dificuldade de fala.
O Guilty Knowledge Test (GTK)* é um modelo de laboratório para detectar a inibição estressante por engano. Na utilização deste método é possível se constatar um aumento do batimento cardíaco, da freqüência de respiração e da pressão sangüínea nos momentos de engano, todas as reações psicológicas também conhecidas como resposta ao estresse. Gravações em vídeo feitas durante o ato de enganar mostraram que a inibição não só leva a um aumento da excitação fisiológica, como também a uma inibição geral de expressões faciais. Durante o tempo de excitação vegetativa, o rosto pareceu ficar congelado.
Os caminhos entre estresse, inibição emocional e distúrbios da saúde.
A inibição das emoções leva à doença através de caminhos neurobiológicos, sócio-comportamentais e cognitivos. E mesmo que a inibição do comportamento emocional não cause doença, ela pode mantê-la ou adiar o restabelecimento. Uma superexcitação fisiológica pode causar os mesmos efeitos negativos que um sistema endócrino superestimulado, ou um sistema imunológico desregulado. A cura é intensificada pelos cuidados dispensados pelo meio social. O processamento de emoções inibidas em si mesmo não causa obrigatoriamente doenças, porém pode influenciar o curso delas.O presente modelo diferencia entre doença e distúrbios da saúde. Podemos encontrar em Traue (1988) uma apresentação (com gráfico) detalhada do padrão de caminho. As seções que se seguem fornecem descrições de três caminhos que vão da inibição à doença.
Caminhos neurobiológicos
A inibição de comportamento de crianças pequenas frente a novos estímulos sociais, manifesta como inibição emocional, ansiedade e timidez, tem, sem dúvida, uma base neurológica. As particularidades deste padrão de comportamento são demonstradas nos limiares baixos para novos estímulos e em hiperatividade de determinados sistemas fisiológicos, evidenciados em aumento do medo, da tensão muscular e, nas crianças desinibidas, excesso de atividade e ativação fácil da excitabilidade dos sistemas neurotransmissores.
Um conceito discutido muitas vezes neste contexto é o de que o equilíbrio entre a ativação e a inibição da ação neural favorece a inibição. Jeffrey Gray (1972, 1976) e Henri Laborit (1986, 1993) conjetura um sistema de inibição de comportamento no sistema nervoso central. De acordo com Gray, o sistema de inibição comportamental (BIS) reage a estímulos desconhecidos, a estímulos de dor e à ausência frustrante de uma esperada recompensa contingente de resposta. Neurologicamente, o BIS está localizado na área cortical do septo frontal do hipocampo (SHF). Substâncias farmacológicas como barbitúricos, álcool e tranqüilizantes têm um efeito desinibidor na área SHF. As lesões nesta área também têm o mesmo efeito. O esquema básico dos estudos de Gray segue uma abordagem experimental e a fuga de conflitos testada com animais. Os animais do experimento aprendem um determinado comportamento para serem recompensados. Quando a reação é aprendida, é dado um estímulo punitivo, o qual ativa o BIS e reduz o comportamento aprendido. Em conclusão, isto tudo leva a uma parada no comportamento através de evitação passiva, com um aumento simultâneo de excitação neuro-fisiológica e da atenção. O sistema de inibição comportamental reage aos estímulos punitivos condicionados, os quais comunicam o fim de uma recompensa e o direcionamento a estímulos desconhecidos. Então, se se ministra uma substância para reduzir o medo, bloqueando o BIS, o efeito desses estímulos desaparecerá e pode ser seguido de comportamento de aproximação.
Baseado em seus próprios estudos científicos e de outros sobre estímulos aversivos inevitáveis, Henri Laborit (1986, 1993) desenvolveu um padrão cerebral de inibição comportamental semelhante ao de Gray e essencialmente referente a estruturas, que possibilita o condicionamento dos estímulos do medo. Ele considera a inibição comportamental em si mesmo um comportamento aprendido. De acordo com Laborit, a inibição é transmitida via hipotálamo médio-ventral através da liberação de norepinefrina e ACTH, que recebe influência na região do septo dorsal, no hipocampo dorsal e na amígdala lateral. O neurotransmissor serotonina (5-HT) aumenta o despertar da inibição comportamental. Com isso, o sistema dopaminérgico e a acetilcolina fornecem estímulo ao córtex pré-frontal. Segundo Laborit, as projeções serotonérgicas dos núcleos da rafe no sistema neuronal no septo, no hipocampo e no córtex pré-frontal, bem como as projeções colinérgicas no córtex frontal e nos caminhos ascendentes da formação reticular e o núcleo basal da amígdala são parte do sistema de inibição comportamental. Os caminhos colinérgicos ascendentes ao córtex ativam o ACTH e a descarga de cortisol. Henri Laborit descreve o envolvimento da inibição comportamental condicionada na origem e manutenção das doenças, com se segue: “(1) Os glucocorticóides induzem o bloqueio do sistema imunológico.Pode-se deduzir que se surgir uma infecção microbiana ou proliferação de células anormais, o que em condições normais seria controlado pelas defesas imunológicas, há possibilidade de se desenvolver livremente uma infecção ou um episódio neoplásico. Isto explica a relação entre infecções e neoplasias em situações comportamentais onde a ação gratificante é inibida. Também mostra que os agentes infecciosos ou os fatores causadores do câncer não são os únicos elementos envolvidos nas doenças. (2) A liberação periférica de norepinefrina nos terminais do sistema nervoso simpático causará uma vasoconstrição generalizada,e conseqüentemente uma diminuição no receptáculo vascular. Além disso, os glucocorticóides induzem a retenção de sais e água, havendo, assim, um aumento do volume vascular. A combinação desses dois fatores conduz à hipertensão. Algumas observações experimentais também sugerem que numerosas perturbações somáticas são geradas pelo mesmo processo: aterosclerose, úlcera gástrica, lesões renais, etc. (3) Com referência à patologia mental, não é objetivo deste trabalho discorrer sobre as conseqüências da inibição da ação. Elas podem ser resumidas dizendo que, em nossa opinião, a ansiedade e suas seqüelas neuróticas são resultado do conflito entre o impulso de agir e a inibição da ação, neste caso, aprendendo que a punição sucederá a liberação do impulso. A psicose pode ser um vôo na imaginação quando a inibição é muito penosa para ser tolerada. (4) Também é interessante observar que no esquema aqui esboçado, os radicais livres (H2O2, leucotrinas, endoperóxidos) são capazes de destruir as membranas celulares, em particular as dos lisosomas, o que pode causar morte neural. Este pode ser um primeiro e fundamental passo para a compreensão do nível crônico de certas doenças (Parkinson, Alzheimer), exatamente como em lesões agudas causadas por anóxia cerebral. “ (pg 73-74, 1993)
Podemos considerar um estudo clínico para explicar a relevância das conexões pressupostas por Gray e Laborit entre a inibição de comportamento e a ativação fisiológica e endócrina para a origem da doença. Em um estudo de Cole et al. (1996) com 222 sujeitos homossexuais, homens, HIV soronegativos, pode-se demonstrar os efeitos negativos da supressão emocional de preferências sexuais importantes. Por meio de uma escala secreta, os sujeitos foram separados em quatro grupos, conforme o grau em que expunham socialmente suas preferências sexuais: inteiramente; abertamente a maior parte do tempo; metade do tempo abertamente, metade do tempo, não; e não-abertamente a maior parte do tempo, ou não se expondo de modo algum. Isto também define o grau em que os homossexuais escondem suas tendências sexuais fora de sua vida íntima. A análise do retrocesso resultou num aumento dramático da freqüência de doença combinada com um aumento da observância de sigilo para quase todas as doenças infecciosas, bem como para o câncer de pele. Considerando todas as doenças, a probabilidade de adoecer dobra em cada nível de sigilo que se faz. Este efeito precisa ser levado mais a sério, uma vez que os efeitos de idade, etnia, educação, condição social, comportamento de saúde (e.g. dependência de drogas, hábitos de sono, condicionamento físico) e influências psicológicas, tais como depressão, medo e afetividade negativa – até o estilo de enfrentamento repressivo – foram eliminados dos dados. Utilizando-se um modelo de corte cruzado como este, esse estudo quase experimental não pode fornecer provas de que a inibição conduza à doença, e outras explicações causais também são possíveis (e.g. ficar doente pode levar a menor exposição). Entretanto, levando tudo em consideração, este estudo fornece evidências fortes de que o grau como são escondidas as tendências sexuais podem ser um fator de alívio da doença.
À parte a pressuposição de que a atividade nervosa central pode obstruir o comportamento emocional, a hipótese do processamento consciente e inconsciente da informação emocional tem sido perseguida desde o começo da pesquisa sobre a divisão do cérebro. Estudos anteriores de Sperry (1966, 1974) relatam o seguinte: o hemisfério direito processa informação gráfica (e.g. uma mulher nua em um experimento) em uma reação emocional apropriada (corar, dar risadinhas), sem saber lingüisticamente que informação afinal induziu esta reação emocional. Se não sabemos que a transferência de informação do hemisfério direito para o esquerdo foi interrompida devido à separação de seus corpos calosos, provavelmente pensaríamos no mecanismo de defesa da repressão. Sabe-se que o sujeito feminino deste experimento não suprime intencionalmente conteúdo emocional. Devido ao seu déficit neuropsicológico ela não é capaz de descrevê-lo. Mesmo que os resultados de experimentos com seres humanos que tenham o cérebro dividido não possam ser transferidos a pessoas sadias, essas observações favorecem várias idéias de um envolvimento diferenciado dos dois hemisférios no processamento disfuncional dos estímulos emocionais; isto pode ser observado na expressividade inibida ou alexitimia, visto que até com seres humanos saudáveis há diferenças entre o hemisfério esquerdo e o direito no processamento de informação emocional. Isto é de grande importância para a questão da expressividade emocional inibida; na comparação, o hemisfério direito é mais rápido do que o esquerdo no reconhecimento de rostos carregados de informação emocional. Mas, quando as reações têm que ser em nível lingüístico, a vantagem do hemisfério direito desaparecerá. Tarefas de reconhecimento facial para invariância fisionômica (i.e. reconhecer rostos de diferentes perspectivas) são mais bem resolvidas pelo hemisfério direito. Com o processamento dos estímulos acústicos o hemisfério direito domina a identificação do tom emocional de linguagem. Um mecanismo neuropsicológico pode derivar-se da diferença no processamento emocional dentro do hemisfério direito e do esquerdo, o que explica as dissociações entre experiência emocional, comportamento expressivo emocional e reações fisiológicas que são típicas a fenômenos diferentes da emocionalidade e personalidade inibidas (ver Traue, 1988, 1998; Lane et al. 1995, 1996). Um estudo não publicado de Günden et al. sobre MRI confirma a hipótese que o volume do hemisfério direito está em correlação com as características da alexitimia – mas especificamente apenas o giro do cíngulo anterior, e apenas em sujeitos masculinos.
Caminhos socio-comportamentais
Processamento emocional inibido indica a deficiência básica de comunicação, de troca emocional e de relacionamento apresentada pelas pessoas que não conseguem demonstrar apropriadamente seus sentimentos em situações interpessoais. Assim que acriança nasce, a emocionalidade inata tem um efeito no comportamento comunicativo dos pais. Quanto mais expressivo é o bebê, mais os pais se dirigem a ele usando expressões faciais que evidenciam emoção. As reações expressivas emocionais têm um efeito intensificador dos dois lados. O desejo de troca emocional permanece sempre vivo. (Rime, 1995).
É mais fácil condicionar as crianças com baixa expressividade e alta excitação do sistema simpático, porque reagem mais intensamente aos estímulos punitivos. Sob condições desfavoráveis de socialização dentro da família, escola ou grupos religiosos, a expressividade emocional em processo de crescimento pode ser suprimida e a excitação do simpático pode aumentar. Existem outros efeitos: as crianças expressivas, também os adultos, são queridos, parecem ser mais atraentes e se saem melhor em conseguir seus objetivos. Salovey e Mayer (1990) criaram o termo “inteligência emocional” para definir esta capacidade. Quando a pessoas expressivas utilizam a inteligência emocional, elas são bem sucedidas na construção de um sistema de apoio social que, sob condições estressantes, talvez possa servir de anteparo contra o estresse e reduzir os efeitos prejudiciais à saúde.
Sob trauma severo a inteligência emocional só entra em atividade se a pessoa permanecer em seu próprio ambiente social, e se utilizar seus próprios recursos emocionais ainda presentes para reconstruir, pouco a pouco, seus relacionamentos sociais (Traue et al., 1997; Traue, 1998). Os processos de aprendizagem sob trauma severo podem condicionar padrões de excitação hiperativa no sistema nervoso autônomo – variando desde o medo até o torpor externo e a apatia interna. Após terem sido condicionados, esses seres humanos sofrem fortes oscilações entre alta excitação emocional e insensibilidade emocional, entre o impulso de fugir e o torpor.
Caminhos cognitivos
As lembranças de experiências emocionais são muitas vezes desagradáveis, especialmente quando se referem a episódios problemáticos da vida. Por essa razão, muitos seres humanos tentam suprimir reflexões sobre tais acontecimentos. Visto que essas reflexões são parte decisiva das reações emocionais, os intentos de suprimi-las significam inibições do comportamento emocional. A energia usada para suprimir tais reflexões não está disponível para uso em outros processos cognitivos, o que resulta na redução do funcionamento cognitivo. A ambivalência com relação à expressividade emocional pode ser interpretada como inibição cognitiva. King et al. (1992) formularam uma teoria sobre ambivalência emocional, de acordo com a qual a necessidade de expressividade emocional pode causar conflitos que resultam em ambivalência com relação à própria expressividade. O questionário de King sobre a ambivalência foi traduzido para o Alemão, e a conexão entre a saúde física e psicológica e a ambivalência emocional foi testada numa amostragem com sujeitos saudáveis. (Deighton & Traue, em elaboração).
Uma análise fatorial do AEQ alemão resultou em dois aspectos diferentes da ambivalência com respeito a conteúdo. Um fator resumiu as perguntas que se referiam às conseqüências da expressividade emocional, por exemplo, se alguém teme que sua expressão de raiva seja levada a mal por outra pessoa. É por esta razão que chamamos este fator de ambivalência de efeito. O segundo fator consiste de perguntas referentes à habilidade de demonstrar expressão emocional, por exemplo, se alguém quer mostrar seus sentimentos e não consegue. Conseqüentemente, chamamos este fator de ambivalência de competência. A ambivalência de efeito refere-se principalmente a emoções negativas, enquanto que a de competência está mais relacionada a sentimentos positivos. Os dois fatores também diferem em termos de condições de saúde. A ambivalência de efeito correlaciona-se com a dor física e os sentimentos depressivos, ao passo que os valores elevados da ambivalência de competência correlacionam-se com a falta de apoio social.
Outro caminho cognitivo de supressão é causado por um estilo cognitivo de processar incidentes emocionais que carecem de emoção. Para que se processe por completo um incidente emocional, muitos aspectos precisam ser codificados lingüisticamente. Os diálogos internos, bem como a comunicação de experiências emocionais exigem tais transformações verbais. Há algumas décadas os acadêmicos de medicina psicossomática criaram o termo alexitimia para a linguagem sem emoção, com o intuito de descrever a incapacidade de lidar mental ou verbalmente com acontecimentos emocionais. É importante manter uma representação cognitiva completa dos acontecimentos emocionais é importante para apagá-los da rede de medo dentro do cérebro, e de estabelecer nova conexão deles com experiências menos assustadoras. Devido ao fato de que no temor mental, as redes de conteúdos emocionais isolados associam-se ao aumento correspondente de excitação do sistema simpático, a excitação fisiológica pode ser interpretada como um sintoma físico de doença.
As transformações cognitivas de incidentes estressantes não exigem necessariamente a supressão de informações emocionais. Podemos aproveitar o insight de Shakespeare em Hamlet: “não há nada bom nem mau, mas o pensamento assim o torna”, para tentar mudar um determinado modo de sentir transformando a maneira de pensar. Embora a reavaliação possa incluir supressão do pensamento, ela consiste principalmente da recomposição de um incidente emocional em termos não-emocionais, e a separação de estados internos da estimulação externa. Em um estudo recente com a imagem de ressonância magnética funcional, Ochsner et al. (2002) demonstraram que a redução efetiva do afeto negativo subjetivo por reavaliação cognitiva está em correlação com um aumento da atividade nas áreas lateral esquerda, pré-frontal medial e do cíngulo, e com o declínio da ativação da amígdala e do córtex orbitofrontal médio. Embora estas descobertas sugiram que os processos cognitivos estejam envolvidos na regulação emocional e possam mudar a experiência aversiva subjetiva, permanecem questões sobre o significado funcional desta atividade cerebral e sua relevância para os indivíduos doentes. Contudo, essas observações são condizentes com descobertas de estudos do tratamento para desordens depressivas e obsessivo-compulsivas, os quais descobriram uma normalização da atividade da área pré-frontal e da amígdala. Portanto, a ativação da área pré-frontal, do cíngulo e da amígdala parece ser relevante para a regulação emocional.
As emoções na psicoterapia
A experiência interna e a expressão de emoções são freqüentemente o foco de atenção na psicoterapia. Nela, o comportamento emocional não pode ser considerado separadamente dos processos cognitivos e ações, visto que estas funções podem causar emoções e também são influenciadas por elas. No campo da psicoterapia, que trata com o ser humano como um todo, o comportamento emocional só pode ser examinado em conexão com outras funções psicológicas básicas.
De um ponto de vista histórico, a psicanálise usou o termo energia para descrever comportamento emocional, pois os conceitos de cibernética e as idéias de processamento de informação ainda não haviam se desenvolvido na época. Nesse contexto, Freud originalmente considerou o comportamento emocional no sentido da energia psicológica, originária das pulsões e instintos, o id. No campo da psicanálise, a atenção aos processos emocionais resultava de experiências clínicas com um tratamento de uma condição chamada, na época, de histeria. De acordo com Freud, os afetos que não são abreagidos ficam mentalmente conectados com a situação correspondente. Mesmo que permaneçam inconscientes, eles podem ainda assim causar comportamento neurótico, no qual são simbolizados os aspectos dos motivos experienciados originalmente motivos experienciados ou os resultados dele. Freud também tinha a opinião de que uma catarse de um afeto experienciado poderia ocorrer espontaneamente durante, ou em seguida a uma situação motivadora de afetos, ou poderia resultar de uma intervenção terapêutica. Aqui, ele tinha diferentes possibilidades em mente, indo desde a atuação direta de um determinado acontecimento, até falar conscientemente sobre o trauma em diversas sessões (Freud, 1895).
Mesmo que na psicanálise tradicional o apoio da emocionalidade expressiva tenha sido rechaçado em favor de processos puramente cognitivos, essas idéias não se perderam. Michael Balint relatou que Sandor Ferenczi fez experiências com as chamadas “técnicas ativas”. Ferenczi supôs que nas sessões terapêuticas as emoções, conflitos e pensamentos suprimidos podem ser suscitados de maneira a se tornarem quase conscientes, mas devido ao seu conteúdo negativo, são finalmente transformados em sintomas físicos que podem ser compreendidos e interpretados como sintomas neuróticos.
O comportamento físico dos clientes em terapia deve ser observado com relação à qualidade expressiva, visto que o conflito entre um impulso emocional para agir e a supressão dele é refletido no comportamento físico-expressivo. Atualmente falamos sobre um tipo diferente de comportamento expressivo. Ferenczi considerava a liberação do impulso original de agir como um passo importante na terapia. Neste contexto, ele sugeriu que se ampliasse a atitude analítica passiva recomendando aos pacientes que vivenciassem ativamente seus impulsos, ou aconselhando-os a não fazerem isto.
Da perspectiva da época atual, é surpreendente observar a quantidade de esforço intelectual que os analistas dos anos vinte fizeram para descobrir se deveriam ou não aconselhar os clientes a se masturbarem, sempre que tivessem este impulso sexual. Contudo, fora do campo da psicanálise tem sido uma prática comum ajudar ativamente os clientes a enfrentarem a inibição em suas emoções, necessidades e impulsos para agir.
Segundo Ferenczi, sua técnica ativa era bastante diferente do método tradicional de associação livre. Ferenczi discutia com seus colegas se era possível manter uma posição neutra frente aos clientes. Ele sustentava que a desonestidade profissional poderia ter nos clientes o mesmo efeito prejudicial que seus traumas originais tinham (para os métodos de tratamento de
Ferenczi, ver Balint, 1967).
Quando se discute a respeito de conceitos terapêuticos para a mudança da inibição emocional, é preciso que se mencionem dois psicanalistas: Carl G. Jung e Wilhelm Reich. Ambos eram psicanalistas tradicionais, mas desenvolveram visões tão radicais que se formaram novas escolas terapêuticas derivadas de seu trabalho.
Anos antes da discussão sobre a teoria da emoção citada anteriormente, Jung já apontara algumas diferenças essenciais entre as avaliações cognitiva e emocional dos estímulos ambientais. De acordo com ele, as cognições conduzem a julgamentos do tipo verdadeiro-falso, enquanto as emoções conduzem às avaliações do tipo bom-mau. Jung acreditava que os dois processos de avaliação eram racionais, ao passo que, em sua opinião, os processos de percepção e intuição eram não-racionais e tinham que ser submetidos à avaliação racional pelas cognições e emoções. Todas estas quatro funções psicológicas são importantes para o comportamento. Em terapia, as funções psicológicas subdesenvolvidas precisam ser auxiliadas.
Outro aspecto da visão de Jung diz respeito à psique como sistema auto-regulador. As experiências e memórias suprimidas tornam-se complexos mentais emocionalmente ligados dentro do inconsciente, e precisam ser controladas pelo indivíduo. As atitudes e regras comportamentais rígidas adotadas pelo indivíduo contradizem esses complexos mentais negados ou suprimidos. O indivíduo necessita experienciar estas emoções libidinais temíveis ou destrutivas, para aprender a tolerá-las e aceitá-las. É necessário que se mencione que Jung não concebia a libido em um sentido sexual limitado, mas como energia mental.
Mais radical e determinado que qualquer outro psicanalista, Wilhelm Reich voltou-se contra a “compreensão puramente intelectual” das emoções humanas, e contra a psicanálise tradicional que, em sua opinião, havia cometido um engano ao abandonar a catarse. Ele estava interessado na busca das possibilidades terapêuticas para liberar as emoções suprimidas em terapia.
Wilhelm Reich presumia que qualquer resistência a experienciar, viver ou expressar sentimentos seria firmemente incorporada na personalidade. Baseado na análise psicológica da “couraça de caráter”, como ele chamava esta resistência, desenvolveu intervenções terapêuticas psicológicas e fisiológicas com o objetivo de romper estas couraças. Ele presumia basicamente que o medo e o medo da agressividade causassem a supressão dos impulsos emocionais. Wilhelm Reich concentrou-se nas expressões e nos sintomas físicos na terapia com muito mais consistência do que Ferenczi. Ele começou a ficar mais interessado no comportamento não-verbal dos seus clientes do que em suas declarações verbais. Não considerava os sintomas físicos como energia psicológica transformada, mas como manifestações de emoção suprimida.
Segundo Reich, as tensões musculares não resultavam da repressão dos sentimentos, mas eram os mecanismos somáticos da supressão de sentimentos em si mesma. Sua terapia objetivava a ruptura da couraça muscular, revelando os impulsos emocionais suprimidos e desenvolvendo uma conscientização das situações nas quais a supressão de emoções tinha se originado.
Wilhelm Reich não valorizava o conceito de catarse por ele mesmo. Isto foi muitas vezes mal compreendido. Ele acreditava que a catarse ajudava a liberar emoções e fazer com que os clientes ficassem cientes delas. As emoções não devem ser liberadas e expulsas dos processos psíquicos internos, mas antes deveriam ser conscientemente percebidas e aceitas. Os elementos catárticos na terapia eram seguidos de uma fase de processamento mental de sentimentos experienciados. A supressão era neutralizada pela compreensão e esclarecimento dos mecanismos psicológicos envolvidos. Wilhelm Reich trabalhava com uma mistura de técnicas de respiração, massagem e exercícios físicos que aumentavam o nível geral de excitação até um ponto em que, finalmente, a resistência aos sentimentos suprimidos podia ser abandonada. Para a terapia de Reich, este suporte de expressividade emocional era o caminho ideal para a saúde física e mental.
O comportamento emocional desempenha um papel importante nas abordagens corporais de psicoterapia. Fortemente influenciado pelas idéias de Reich sobre a inibição emocional e suas técnicas terapêuticas, Alexander Lowen desenvolveu a Análise Bioenergética, uma escola terapêutica que considera a experiência emocional física e intensiva como elemento central de cura. Alexander Lowen, como Wilhelm Reich, supõe que a inibição emocional absorva a energia psíquica que seria necessária para um enfrentamento ativo do indivíduo com seu ambiente. Como C. G. Jung, ele enfatiza a função dos estímulos emocionais para a interpretação dos estímulos internos e externos: o conhecimento associado aos sentimentos torna-se compreensão, podendo induzir à mudança (Lowen, 1975, S. 62).
De acordo com Alexander Lowen, a emocionalidade expressiva conduz a uma coordenação melhorada dos processos psíquico e somático, integrando pensamentos e atitudes. A teoria bioenergética considera a expressividade emocional saudável por causa dos seus efeitos reguladores no meio social, bem como no self individual. Os movimentos físicos e as transformações na postura auxiliam a expressão de emoções fortes.
Lowen acredita que tanto os transtornos neuróticos quanto os psicossomáticos sejam causadas por experiências traumáticas ou privação emocional na infância. É possível reagir tanto com inibição de emoções como com impulsividade. Lowen estava convencido de que os pais instilam a supressão de sentimentos nos filhos porque têm tolerância baixa para a expressão emocional deles e de outras crianças.
Como Wilhelm Reich, Lowen acreditava que a catarse do trauma e sua liberação, principalmente quando experienciado na infância, são o ponto crucial da terapia.
Considerando os resultados da pesquisa sobre o desenvolvimento infantil e a teoria da emoção e, por fim até mesmo no campo da psicanálise, tem sido aceito em geral que o comportamento emocional tem que ser compreendido como um sistema de comunicação por meio do qual as necessidades, desejos e avaliações situacionais podem ser comunicados diretamente no meio social, de maneira mais não-verbal do que com palavras.
As teorias psicoterapêuticas atuais defendem, quase que unanimemente, que a experiência e a expressão das emoções são importantes para compreender os clientes e suas doenças. O comportamento emocional na terapia é muitas vezes visto como a chave para a mudança: Greenberg e Safran relatam esta mudança no seguinte episódio:
“Fiz terapia por alguns meses e comecei a falar com o terapeuta sobre meus sentimentos de isolamento e frustração. Os problemas ficaram um tanto mais claros para mim, mas, de uma maneira ou de outra, as coisas não mudaram realmente em nível emocional. Então, fui a um segundo terapeuta. De algum modo, este terapeuta começou a me fazer entrar em contato com o que eu sentia internamente. Lembro-me que, para minha surpresa, sucumbi e chorei na segunda sessão. Comecei emitindo sons fracos e logo estava me lamentando e chorando a plenos pulmões. Mais ou menos nos cinco minutos seguintes, gradualmente, a intensidade do meu choro diminuiu. Comecei a falar sobre a dor e o desespero que estava experienciando internamente, de um modo como nunca havia feito antes. Talvez nunca tivesse me sentido assim também. Continuei falando sobre meu desejo de contato humano, sobre a maneira como me sentia preso por minhas ansiedades e medos de rejeição, e meus sentimentos de culpa sobre ter um relacionamento sexual. Nas semanas seguintes, comecei a me sentir cada vez mais motivado a fazer algo para mudar minha vida. Foi poucos meses antes de fazer grandes mudanças externamente, mas sempre marcarei o começo da minha mudança a partir deste episódio.” (Greenberg & Safran 1987, 4).
Os clientes começam a reagir emocionalmente em determinado ponto, dentro do processo terapêutico. Este momento emocional difere dos sentimentos anteriores por sua intensidade e seu componente expressivo. Os clientes realmente adquirem consciência de si mesmos, obtendo insights em conseqüência disso. Graças a este sentimento intenso, são capazes de falar mais claramente sobre suas necessidades, e de desenvolver sua motivação. Os processos emocionais cruciais são as experiências subjetivas de sentimentos, o envolvimento físico, a expressão emocional, e as mudanças motivacionais e cognitivas conseqüentes. Muitos psicoterapeutas concordariam com o fato de que os problemas psicológicos, com muita freqüência resultam do bloqueio ou evitação do comportamento emocional potencialmente adaptativo, e que as intervenções psicoterapêuticas visam ultrapassar a resistência às emoções e à revelação da experiência emocional ; além disso, a vivência completa de um episódio emocional específico conduz a uma mudança de experiência emocional, possibilitando, como resultado, novas reações de adaptação nas situações problemáticas.
Se quisermos analisar como a ciência da psicoterapia trata os processos emocionais dos clientes, não podemos, na verdade, falar sobre “psicoterapia”, visto que, em inúmeras tradições psicoterapêuticas, a teoria em que se baseiam difere consideravelmente de suas intervenções terapêuticas. As diferenças entre as escolas são maiores na teoria do que nas práticas terapêuticas.
As quatro dimensões da terapia da emoção
Greenberg & Safran (1987) estipularam quatro dimensões fundamentais. Elas se baseiam em diferentes perspectivas psicoterapêuticas, das quais o comportamento emocional é visto dentro dos conceitos terapêuticos correspondentes e das técnicas de tratamento:
(1) Descarga emocional
(2) Insight emocional
(3) Emoções adaptativas facilitadoras
(4) Exposição e hábito
Perspectivas psicoterapêuticas diferentes avaliam estas quatro dimensões de modos diferentes. Mas, se um ou mais aspectos forem utilizados em uma intervenção, será de suma importância atingir uma vivência completa de um episódio emocional incluindo a experiência subjetiva, expressividade emocional, excitação fisiológica e funções interativas.
DESCARGA EMOCIONAL – Muitos métodos psicoterapêuticos contêm elementos de catarse, de forma mais ou menos explicíta. Julga-se, por exemplo, que a maioria dos elementos catárticos ajuda a ativar memórias reprimidas, ou oferece segurança para que os clientes não tenham que fugir das reações emocionais suprimidas ou evitadas. Somente alguns terapeutas, como os adeptos da terapia do grito primal, acreditam nos efeitos salutares de vivenciar emoções diretamente. Até mesmo Even Thomas (1983), um defensor da terapia de catarse, acredita que a catarse é particularmente efetiva se os clientes puderem observar de uma certa distância suas expressões de emoções antes reprimidas ou suprimidas, e se puderem, passo a passo, remover sua inibição emocional através de experiência e observação próprias. A liberação de emotividade suprimida deve ser embutida nas estratégias terapêuticas que trabalham com mudanças de autoconceito de um cliente depois de ter feito uma experiência catártica, de modo que possam resultar mudanças permanentes da experiência de catarse. Se a hipótese sobre estresse e enfrentamento fosse central na terapia, um objetivo da descarga emocional seria dirigir o esforço psicológico necessário para suprimir as emoções na direção do enfrentamento do estresse. Este objetivo só pode ser atingido se os clientes souberem antecipadamente das possibilidades e do poder da descarga emocional.
INSIGHT EMOCIONAL: Embora principalmente nas psicoterapias cognitivas a catarse da excitação emocional seja considerada ineficaz ou, no máximo, de efeitos efêmeros, a importância da experiência emocional não é questionada. Pelo contrário, a compreensão puramente intelectual de um indivíduo de seu próprio comportamento, mesmo de comportamentos perturbados, é oposta ao insight. O insight em terapia apenas acontece quando os aspectos emocionais da experiência são processados concomitantemente com acontecimentos recordados. O insight somente é efetivo se os clientes entenderem seus impulsos emocionais no contexto total de seus sistemas de valores culturais, e se integrarem o episódio em uma narrativa pessoal. Na psicanálise, por exemplo, o processo de entrega serve ao objetivo de enriquecer emocionalmente as experiências psicológicas anteriormente superficiais, através do mecanismo de transferência. Quanto mais intimamente relacionados estiverem a experiência emocional atual e o processamento intelectual, maior a probabilidade de mudança do paciente. Na terapia centrada no cliente, os terapeutas focalizam particularmente as nuances das comunicações verbais de seus clientes. Esta terapia não trata tanto dos impulsos emocionais suprimidos, e sim de aspectos do autoconceito e das relações do paciente com os objetos de seu meio interpessoal comunicados com emoção. Aqui, as emoções são consideradas como processos significativos, por meio dos quais um indivíduo avalia seu mundo interior e exterior. Desse modo, o insight está sempre relacionado com o envolvimento emocional. Dentre outras formas de terapia, a centrada no cliente focaliza explicitamente o processo oposto, na visão construtivista da emocionalidade experienciada. Qualquer autoconceito com relação à persona é sempre o resultado de uma construção mental e só pode ser completa se incluir experiência emocional. Nesse sentido, a experiência emocional presente e a subjetiva são necessárias para mudar autoconceitos na terapia.
EMOÇÕES ADAPTATIVAS E FACILITADORAS – Através da facilitação das emoções adaptativas, a perspectiva individual autocentrada é ampliada.. Para um indivíduo dentro de seu contexto social, as emoções controlam sua experiência e seu comportamento no contato interpessoal. A experiência emocional regula a simpatia, a atração e rejeição em relação aos outros. Neste contexto, o papel das emoções é enfatizado como um sistema de processamento de informação segundo uma dimensão intra e interindividual – ela expande a perspectiva para além do indivíduo. Os métodos terapêuticos que restringem seus esforços à redução dos sentimentos indesejáveis, negligenciam e ignoram o valor adaptativo das reações emocionais.
O sentido comunicativo do comportamento emocional expressivo é a questão central da terapia humanista. Este comportamento é sustentado, capacitando, assim, os clientes a traduzirem seu âmbito subjetivo de sentimentos na comunicação interpessoal. O mesmo se aplica ao treinamento da competência social em terapia comportamental, em que o comportamento emocional expressivo é praticado ou sustentado para satisfazer necessidades ou resolver problemas.
O desenvolvimento atual de conceitos terapêuticos diferentes caracteriza-se por um esforço para integrar novas descobertas da psicobiologia. Isto se aplica às terapias cognitivo-comportamentais com clientes traumatizados, ajudando-os a enfrentar os efeitos neurobiológicos de estresse severo no comportamento emocional. Também se aplica ao campo da psicanálise que atualmente integra descobertas da psicologia do desenvolvimento em seus próprios conceitos. O comportamento emocional expressivo evoluiu filogeneticamente de padrões do comportamento geral (e.g.vomitar comida rejeitada) para a comunicação de avaliações (e.g. aversão). Por esta razão, a função adaptativa do comportamento expressivo para se viver em grupos deve ser alta.
EXPOSIÇÃO E HÁBITO – Os métodos de catarse, inundação ou implosão baseiam-se em idéias teóricas diferentes. Eles também têm suas raízes em abordagens terapêuticas diferentes, a antiga psicanálise e a terapia comportamental. Seu embasamento teórico presume que o comportamento emocional potencialmente existente poderia perturbar os clientes se fosse acionado por determinados estímulos ou se fosse indesejável. Os primeiros psicanalistas tratavam essas reações indesejáveis, assim como suas transformações qualitativas com a ab-reação na catarse, quer dizer, criando uma válvula para descarregar a energia psíquica. Os terapeutas comportamentais achavam que a extinção e o contracondicionamento seriam meios adequados de terapia, fosse pelo condicionamento de uma reação alternativa a situações que causaram previamente sentimentos indesejáveis,ou revogando conseqüências que aumentavam sentimentos indesejáveis. O comportamento emocional tem que ocorrer durante as sessões terapêuticas, ou seja, tem que ser iniciado por um processo ativo, para tornar as estratégias terapêuticas bem sucedidas. Esta é uma característica comum essencial. A expressão processamento emocional é usada nas discussões recentes da terapia comportamental. O processamento emocional reflete a transição dos objetivos terapêuticos da redução dos comportamentos indesejáveis às alternativas de comportamento. Stanley Rachman diz: “Para começar, o processamento emocional é considerado como um processo através do qual as perturbações emocionais são absorvidas e diminuem na medida em que outras experiências e comportamentos podem acontecer sem rupturas.” (Rachman 1980, 51)
Todos esses métodos terapêuticos usam técnicas diferentes de escolas psicoterapêuticas diferentes, mas têm em comum o fato de que buscam promover o processamento emocional ou o entendimento da emoção do indivíduo.
Conclusão
O modelo relatado de saúde e doença que postula uma conexão entre a emocionalidade inibida e as perturbações da saúde é um padrão de caminho não-determinista, que define caminhos neurobiológicos, sócio-comportamentais e cognitivos entre o estresse e a ativação emocional e seu processamento pela inibição e por conseqüências clínicas. Particularmente para dores de cabeça e nas costas, doenças do sistema cardiovascular e câncer, há inúmeros resultados empíricos e até parcialmente experimentais que provam, para além das conjeturas teóricas, a relevância clínica da emocionalidade inibida como fator de risco para a saúde. Não foram só os psicoterapeutas e acadêmicos contemporâneos da medicina psicossomática descobriram os efeitos prejudiciais da inibição emocional para a saúde física. Em muitas civilizações, os custos individuais referentes à inibição das emoções individuais que são baseadas em coação social, e em boas razões, estavam e estão, pelo menos em parte, reduzidos por rituais de abertura emocional. Os rituais de abertura emocional em grupos étnicos e antigas épocas históricas foram, atualmente, removidos de seu contexto principalmente religioso, e substituídos pela psicoterapia moderna; passaram também por uma forma secularizada de profissionalização, bem como uma ampla proliferação de conceitos psicológicos na vida cotidiana.
Os processos de terapia psicológica que são bem conhecidos na área da medicina psicossomática e comportamental visam quase que unanimimente mudar o comportamento emocional para reduzir as reações de estresse físico. Em conclusão, é necessário mencionar que na área da psicoterapia, as intervenções reguladoras de emoção têm mostrado obter muito sucesso com o tratamento de problemas emocionais, da inibição e de perturbações da saúde física. (Traue, 1998).
Harald C. Traue, Russell M. Deighton e Petra Ritschi
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A key note with this topic was given by Harald C. Traue at the annual conference of the IIBA 2003 in Salvador de Bahia in Brazil. It is based on a shortened, partly amended and translated version of Traue, H.C. and Deighton, R.M. (2003) Emotionale Hemmung als Risikofaktor für die Gesundheit. In: A. Stephan and H. Walter (Hrsg.) Natur und Theorie der Emotionen. Paderborn: Mentis Verlag.
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* Para informações mais detalhadas sobre a apresentação da implosão emocional, ver Traue (1998) eTraue et al. (1997).
* Teste de Reconhecimento de Culpa