Pessoas boas fazem coisas boas. Pessoas que amam fazem coisas amorosas. Não há como ser diferente. O que somos torna-se mais importante do que o que fazemos, sobretudo no âmbito das relações interpessoais. Quando falamos do relacionamento entre pais e filhos, estamos falando, fundamentalmente, do ser; o fazer será uma conseqüência.
Isso explica a frustração de alguns pais que se esmeram no fazer, mas esquecem de ser para seus filhos pessoas que amam. Para os filhos o fazer, embora seja necessário, decresce de importância diante da expressão do ser, até porque o nosso “fazer” só terá consistência se for percebido e sentido como uma resultante natural do que somos.
Por essa razão, é preciso que os filhos vejam em nós o que queremos ver neles. Sem essa constatação eles terão uma dificuldade a mais para incorporar a seus comportamentos aquilo que lhes ensinamos. Mais do que explicações, eles precisam de exemplificação. O que dizemos a eles precisa estar revestido da autoridade de quem se comporta da forma como sugere que façam.
A relação de afeto estabelece o ambiente no qual se processa o desenvolvimento em todas suas frentes. E esse amor começa quando começamos a mostrar a nossa alma para eles. É por isso, que a ligação entre duas pessoas não se dá pela fusão, mas pela relação.
Na relação de amor com o filho, não basta que ele tenha certeza e segurança de que o amamos. Mais do que isso, será necessário manifestar o amor que temos por eles. Para o outro, amor que não se manifesta, aparece como uma interrogação, que, geralmente, se consubstancia na dúvida. E a dúvida que persiste, constrói o vazio.
Provavelmente, a grande falha dos pais na construção de uma relação de afeto com os filhos reside na dificuldade de expressar o amor que, sem dúvida, eles já têm. É doloroso termos a certeza de que amamos sem que o objeto do nosso amor se disponha a aceitar a nossa doação afetiva por não encontrar evidências tranqüilizadoras.
O amor que não se expressa na ação se assemelha a um rio congelado: continua sendo rio, mas perde a sua função principal. Amores “congelados” não têm como atuar dinamicamente na relação parental.
O amor será parceiro das relações entre pais e filhos quando cumprir três funções indispensáveis: Primeiramente, quando aceitar a imperfeição como o caminho do desenvolvimento. Em segundo lugar, quando se expressar de uma forma paciente. Não com aquela paciência que “tem limites”. Paciência que é paciência, é infinita. É verdade, que às vezes, nos cansamos de ser pacientes. Aí, só teremos uma saída: descansar e continuar a nossa caminhada de paciência. Em terceiro lugar, o amor será parceiro quando entendermos que precisamos exercitar a boa vontade de ouvir os filhos naquilo que eles têm a dizer e não simplesmente no que pretendemos ouvir.
Nas relações interpessoais, se quisermos fazer parte das soluções, teremos de aceitar fazer parte dos problemas. No grupo familiar, os problemas de um são, na realidade, os problemas de todos. A família é a conjunção da diversidade. E a família é a verdadeira expressão do conjunto no qual seus membros não perdem a individualidade. Nisso reside a sua força. Quando se tenta atingir a individualidade através de uma pedagogia repressora, destruímos a sua condição de conjunto pela perda da coesão.
Sem afeto as relações morrem por desnutrição.
Toda convivência exige daqueles que dela participam, uma expressão de afeto, que nada mais será do que uma declaração de amor, por silenciosa que seja.
Luiz Schettini Filho
Psicólogo
CURRICULUM
Formação acadêmica em Psicologia, Filosofia e Teologia
Professor de Psicologia da Infância, Psicologia da Adolescência e Psicologia da Aprendizagem.
Psicólogo clínico
Autor de livros e CDs na área de Psicologia da Educação e Psicologia Interpessoal.