10 – Título do trabalho
A PSICOTERPIA CORPORAL BIOENERGÉTICA NO TRATAMENTO DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA
Maria Ângela Moura Rodrigues
A Dependência Química é hoje uma doença que precisa ser entendida para poder ser tratada. Quando esta proposta é colocada por uma equipe multiprofissional temos que trabalhar com o conceito de interdisciplinaridade, onde se constrói uma prática permanente em como é que cada profissional lida com esse conceito enquanto saber. Acontece também uma abordagem social que busca a integração dos saberes buscando um consenso com relação a diagnóstico e a terapêutica, onde é preciso reconhecer os limites e a particularidade da clínica que possibilite o novo. Cada um dentro da sua área irá tentar entendê-la e propor uma forma de tratamento. Ao entender que esta doença não afeta o indivíduo em sua forma singular, mas sim no seu contexto social, e que ambos se sentem impotentes para acabar com os danos causados por ela. A terapia corporal bioenergética propõe um trabalho de conscientização corporal, já que o ser humano é uma unidade, o corpo não está separado da mente. As defesas psicológicas usadas para lidar com a dor e o stress da vida, racionalizações, negações e supressões também estão ancoradas no corpo em forma de couraças. O processo de desencouraçamento consiste em tomar consciência de suas tensões e liberá-las através de movimento apropriado, junto com a exploração verbal dos conflitos emocionais relacionados ou não com o uso do químico.
Pretendo mostrar o programa PRESTA–Programa de Recuperação a Saúde do Toxicômano e Alcoolista que é realizado dentro do Hospital da Polícia Militar do Espírito Santo, com internação de 35 dias e de forma gratuita, e atende tanto Policiais militares como a população civil de todo o Estado.
Pretendo também divulgar como a psicoterapia corporal bioenergética, esta inserida no contexto de trabalho com uma equipe multiprofissional, onde pode contribuir e receber influências de outros profissionais, com o objetivo de pulsar nesse espaço obtendo como resultado o resgate à saúde.
– OBJETIVOS:
1.1 – GERAIS
Fazer a prevenção e oferecer tratamento aos casos de dependência química, visando a reintegração do Policial Militar e civis, à família e a sociedade, contribuindo na melhoria de sua qualidade de vida.
– ESPECÍFICOS:
Divulgar informações ao paciente, aos seus familiares e Comandantes sobre a questão da dependência química.
Fazer visitas periódicas às Corporações Policiais Militares, visando informar ao contingente policial, sobre a dependência química, e as suas conseqüências, bem como dos serviços prestados pelo PRESTA.
Sensibilizar o dependente químico quanto à necessidade de tratamento e de encaminhamento a grupos de ajuda mútua.
Tratar através de acompanhamento dos profissionais da equipe interdisciplinar os casos de dependentes químicos detectados.
Manter intercâmbio com outras instituições ligadas com o tratamento de dependência química, a fim de trocar experiências sobre os trabalhos desenvolvidos.
Utilizar técnicas baseadas em metodologias específicas, bem como a proposta dos 12 passos do A.A.
Publicar em revistas técnicas, o trabalho e os resultados obtidos no PRESTA.
– METODOLOGIA:
A proposta metodológica é baseada numa abordagem interdisciplinar especializada, centrando-se no presente com uma visão totalitária do seu SER. O paciente é visto de uma forma holística, a dependência química é entendida como uma doença, e cada caso é visto como sendo individual e único; assim não existe uma forma única, cristalizada de tratamento que atenda a todos os pacientes.
2.1 – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS:
PRIMEIRO MOMENTO: TRIAGEM
O paciente procura o PRESTA:
Por livre e espontânea vontade;
Encaminhado pelo seu Cmt. De BPM;
Encaminhado pelo Serviço Social;
Encaminhado pelo médico psiquiatra do ambulatório;
Encaminhado pelo PRONTO Atendimento;
Encaminhado pelos profissionais do programa;
Por estar na lista de espera.
OBS: Todo encaminhamento deverá ser através de oficio à coordenação do programa.
SEGUNDO MOMENTO:
Internação na psiquiatria, para uma avaliação clínica psiquiátrica, cujo procedimento é a desintoxicação, com a permanência de 03 a 05 dias, dependendo do caso, podendo ultrapassar ou não esse período.
Nesse momento, é feita uma abordagem junto ao paciente, onde é informado sobre o funcionamento do PRESTA.
É observada a motivação do paciente em fazer o tratamento, no PRESTA.
É observado à participação da família com relação ao paciente.
OBS: É rigorosamente respeitado o desejo do paciente fazer ou não o tratamento.
TERCEIRO MOMENTO:
Encaminhamento do paciente ao PRESTA, como residente, onde o período de permanência é de no mínimo 35 dias, a fim de retirarmos o dependente químico do ciclo de internações prolongadas, com total assistência às complicações clínicas e acompanhamento interdisciplinar. Atendendo um cronograma de atividades diárias que tem seu inicio às 06:30 horas e encerramento às 22:00 horas, quando os residentes são dirigidos a seus quartos.
O cronograma de atividades no PRESTA, se faz baseado em primeira vista, onde o residente é entrevistado por um profissional, onde é submetido a uma anamnese, a questionários de controle de atendimento, onde são encontrados os seguintes itens; identificação, avaliação sócio econômico, composição familiar, histórico da dependência química, funções psíquicas. Nesse momento o objetivo é uma avaliação global do paciente.
Após essa entrevista, o profissional encaminha e/ou leva esses dados para a reunião de equipe, onde o residente é avaliado e é proposto o seu plano de tratamento, para inicio das atividades, que consistem em: grupo de meditação, psicoterapia, hipnoterapia (que poderá ser individual ou em grupo, de acordo com cada situação especifica), grupo de sentimentos (baseado nos 12 passos do A.A. e no momento existencial de cada um), terapia corporal (onde é trabalhado suas couraças e emoções), atividades ocupacionais (onde é desenvolvida a criatividade com trabalhos manuais), educação física (onde é trabalhado a reeducação motora e o condicionamento físico), atividades de comunicação (onde é elaborado um jornal mensal com artigos dos próprios residentes), grupos de estudo (baseado em bibliografia específica), palestras específicas (baseado na demanda de cada problemática relacionado à dependência química), reuniões com familiares (onde é trabalhado o alcoolismo como doença, alcoolismo doença de negação e o relacionamento marido x mulher x filhos etc… (a questão da dependência química em toda a sua amplitude e complexidade), grupos de A.A., N.A., AL-ANON, NAR-ANON.
QUARTO MOMENTO: ALTA DA RESIDÊNCIA.
Em reunião de equipe, é avaliada a alta do residente, sendo aprovada o residente inicia o Pós-Tratamento.
Ao receber a alta, o residente faz uma avaliação do PRESTA em sua totalidade, com a coordenação do programa. Nesse momento são discutidos os pontos negativos do programa, os pontos positivos, inclusive propondo sugestões.
O residente é orientado sobre o próximo momento do programa, que é o pós-tratamento, recebendo uma ficha com o dia e horário que deverá comparecer ao PRESTA nos próximos 02 (dois) anos.
QUINTO MOMENTO: PÓS-TRATAMENTO. (AMBULATORIAL)
Esse momento tem duração de 02 (dois) anos, cujo procedimento se dará da seguinte forma:
Nos três primeiros meses, o ex-residente deverá comparecer uma vez por semana (quinta-feira) ao PRESTA, onde permanecerá no horário de 08:00 as 12:00 horas, com sessões de hipnoterapia e psicoterapia (individual e/ou grupal e sendo trabalhado ainda o grupo de sentimentos).
Nos próximos três meses, deverá comparecer de 15 em 15 dias.
Nos próximos três meses, deverá comparecer uma vez por mês.
Nos próximos três meses, deverá comparecer de 02 em 02 meses.
Nos próximos três meses, deverá comparecer de 03 em 03 meses.
Deverá comparecer 02 vezes no semestre.
Deverá comparecer 01 vez no semestre.
SEXTO MOMENTO: ALTA DEFINITIVA. (ALTA).
Deverá comparecer uma vez por ano fixo.
OBS: Durante o período como residente, este participa no próprio PRESTA dos grupos de ajuda mútua, A.A., AL-ANON, N.A., NAR-ANON, (trabalho institucional dos grupos de ajuda mútua).
Os residentes participam de reuniões em sala de A.A., N.A., nas comunidades, visando a sua reintegração à sociedade. Acompanhados sempre do conselheiro químico.
É exigência do programa, no período do pós-tratamento, a freqüência aos grupos de ajuda mútua, no mínimo três vezes por semana.
2.2 – TRABALHO COM AS FAMÍLIAS.
Semanalmente, a equipe de assistentes sociais, reúne com as famílias dos residentes, familiares dos que estão no pós-tratamento para um trabalho de grupo.
O Serviço Social atende diariamente, de forma individualizada, os familiares, onde os dados são levados à reunião de equipe.
OBS 1: É exigência do programa, que os familiares participem das reuniões com a equipe de assistentes sociais, caso contrário não é aceito como residente e nem pode participar do pós-tratamento.
Aos domingos antes da visita, todos os familiares têm que participar da reunião com os membros da equipe AL-ANON ou NAR-ANON.
OBS 2: O objetivo dessas reuniões é que a dependência química, não só atinge o dependente químico, como toda sua família, amigos etc…
2.3 – ACOMPANHAMENTO:
O acompanhamento, controle e avaliação são realizados quinzenalmente em reunião de equipe, onde são avaliadas todas as atividades desenvolvidas no PRESTA bem como, o estudo de caso de cada residente.
– RECURSOS.
3.1 – HUMANOS:
Médico Psiquiatra
Assistentes Sociais
Hipnoterapeuta e Psicoterapeuta
Enfermeiro
Terapeuta Corporal
Professor de Educação Física
Responsável pelas atividades ocupacionais
Psicóloga
Secretários Coordenadores
Conselheiro familiar
Conselheiro em dependência química
Equipe de Enfermagem
Representante do A.A.
Representante do N.A.
Representante do AL-ANON
Representante do NAR-ANON
Artista plástica
3.2 – MATERIAIS:
Material básico de escritório
01 Sala da Coordenação
01 Sala de refeição
01 sala de reunião de grupo
01 sala de terapia
01 computador (completo)
01 quadro negro
01 aparelho de som
01 televisão
01 vídeo cassete
01 sala do almoxarifado
05 quartos
Ventiladores de mesa e teto
Livros técnicos
CONCLUSÃO:
O trabalho é avaliado diariamente. A elaboração da metodologia é formulada e/ou reelaborada no momento em que se constata a demanda e a repercussão da abordagem interdisciplinar no programa. Não consideramos nesse trabalho a possibilidade de manter o paciente em ingesta moderado do químico.
A mudança na estrutura assistencial aos dependentes químicos ocorra sem dúvida, se o método utilizado for mostrando os seus resultados e comportando variações de acordo com os casos individuais. Atualmente vemos uma maior aceitação para as internações breves, as psicoterapias, ao pós-tratamento, orientação individual/familiar.
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BIBLIOGRAFIA:
ARAUJO, Vicente Antônio: “Para compreender o alcoolismo – teoria e prática”, Ed. Edicon, SP, 1986.
RAMOS, Sergio de Paula: “Alcoolismo hoje”, Ed. Artes médicas, Porto Alegre, 1987.
Alcóolicos Anônimos: “Os doze passos”, Centro de Distribuição de Literatura de A.A para o Brasil, 1993.
Alcóolicos Anônimos: “manual do CTO”, Centro de Distribuição de Literatura de A.A para o Brasil 1992.
Narcóticos Anônimos: “world service office, Inc. van nuys”, CA 91409 USA tradução da 5ª ed. Brasilian 6/95.
KNAPP, Paulo Etalli: “Prevenção da Recaída”. Um manual para pessoas com problemas pelo uso de álcool e de drogas: Porto Alegre, Ed. Artes Médicas, 1994.
LOWEN, Alexander: O corpo em terapia, a abordagem bioenergética (tradução de Maria Silvia Mourão Netto; supervisão de edição de Paulo Eliezer Ferri de Barros) São Paulo, Summus, 1977.
________________: Medo da vida: caminhos da realização pessoal pela vitória sobre o medo ( tradução Maria Silvia Mourão Neto). São Paulo summus, 1986.
________________: Bioenergética/Alexander Lowen ( tradução Maria Silvia Mourão Neto; direção da coleção de Paulo Eliezer Ferri de Barros). São Paulo summus, 1982.
________________:Exercício de bioenergética : o caminho para uma saúde vibrante/ Alexandre lowen e Leslie Lowen; (tradução de Vera Lúcia Marinho, Suzana Domingues de castro) São Paulo, Ágora, 1985.
BRIGANTI, Carlos Rosário. Corpo Virtual:Reflexões sobre a clínica psicoterápica; são Paulo: Summus, 1987.
– Anexo I – Psicoterapia Corporal Bioenergética no tratamento da Dependência Química.
Terapia Corporal: toma-se como ponto de partida o conceito de “Unidade Funcional”, de Wilhelm Reich. Este conceito implica numa visão holística de homem, onde o corpo e mente são vistos como um todo integrado e ainda, que os fenômenos psíquicos encontram-se transcrito tanto no plano físico quanto mental, sendo ambos campo de atuação terapêutica.
O trabalho com os grupos de Terapia Corporal é um convite para vivermos a vida como uma construção contínua. Concebe a realidade como uma produção e não como um dado –cadeias de eventos dentro do processo biológico e social ocorrendo o tempo todo, dentro e fora de nós. Considera os seres humanos como um processo formativo vivo, e tem como princípios o respeito à integridade e a especificidade de cada pessoa, buscando acolher o desabrochar da criatividade, da potência e da espontaneidade de cada um, de forma responsável, tolerante e não evasiva.
Desse modo, os grupos cumprem sua função ao propiciar uma consciência e auto percepção dos bloqueios corporais, ligados à dificuldade de expressão e contato, características bem comuns de alguns dependentes químicos.
Vem com a finalidade de possibilitar ao dependente químico a sensibilização e conscientização dos bloqueios corporais ligados a uma dificuldade de contato e expressão de modo a melhorar a percepção de si mesmo e do outro; de recuperar a vitalidade e bem-estar resgatando a capacidade de expressão através da desinibição e do aumento da assertividade; de ajudar o dependente químico a um maior contato com seu próprio corpo, ampliar as sensações corporais, tornar-se consciente das tensões corporais, tornar-se consciente das tensões musculares e dos bloqueios existentes em seu corpo e, trabalhando com movimento e respiração num processo bem gradual, buscar sua expansão; de propiciar um fluxo mais livre de energia no corpo, ao qual traria consigo um sentimento mais de estar vivo que, por sua vez, aumentara nos dependentes químicos a capacidade de sentir prazer, utilizando para isto os recursos naturais do seu próprio corpo; de aumentar a auto-estima; de formar novos hábitos de funcionamento corporal.
Permitir que a energia circule entre as camadas do corpo a partir do coração, gostando de tudo que faça: trabalho, divertimento, sexo, respondendo emocionalmente a todas as situações, podendo mostrar-se zangado, amedrontado ou alegre, dependendo da situação. Estes sentimentos representam respostas genuínas, uma vez que estariam isentos da continuação provocada por emoções reprimidas e derivadas das experiências (da vida de ativa e infância), por um lado refletiriam sentimentos e por outro estariam submetidos ao controle do ego.
Estudar e analisar as defesas em relação a experiências individuais e trabalhar em toda a sua extensão na camada do ego atitudes como: negar, desconfiar, culpar, projetar e intelectualizar, lembrando que a negação é uma característica muito presente na Dependência Química.
Identificar na camada muscular, tensões musculares crônicas suportivas e justificadoras da defesa do ego, que protegem ao mesmo tempo a pessoa contra a camada subjacente dos sentimentos e sensações reprimidas como raiva, pânico ou terror, desespero, tristeza e dor.
Trabalhar as camadas musculares junto com a análise das defesas psíquicas com evocações de sentimentos reprimidos.
Possibilitar suportar a resposta emocional a todas as situações que emergirem.
Levar o participante a um processo de sensibilização e conscientização corporal, que melhore a percepção de si mesmo, buscando literalmente conscientizar o inconsciente.
Trazer a tona o material recalcado, tirá-lo da toca de seus esconderijos corporais.