24 – Título do trabalho
O GROUNDING NAS DIVERSAS ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO
Leila Maria Pereira Dias Sardão
Psicóloga (CRP 06/8486). Psicoterapeuta Reichiana, pelo Instituto Sedes Sapientiae. Analista Bioenergética – CBT . Coordenadora de grupos. Membro e diretora tesoureira da SOBAB (São Paulo/Brasil).
Maria Aparecida do Vale – Psicóloga (CRP 06/21792-9). Psicoterapeuta Reichiana, pelo Instituto Sedes Sapientiae. Analista Bioenergética – CBT. Coordenadora de grupos.Membro do Conselho da SOBAB (São Paulo/Brasil).
Para Alexander Lowen estar grounding é estar em contato com a realidade. É estar em contato com o chão, enraizar-se, estar sobre os próprios pés e pernas; o que implica sentir-se mais seguro, mais centrado, podendo suportar uma maior carga energética e os mais diversos sentimentos, é poder sentir toda a intensidade da vida.
No mundo de hoje, as mudanças constantes numa extrema aceleração e as pressões para se ter cada vez mais, para crescer e chegar a patamares sempre maiores; tendem a levar o indivíduo a um nível de angústia e ansiedade muitas vezes insuportável. É preciso estar grounding, que é o oposto de estar suspenso, preso por uma ilusão, e construir alternativas buscando maior flexibilidade para suportar os abalos e sustentar a intensidade da vida. Estar com os dois pés no chão é uma expressão popular que diz do fato da pessoa estar em contato com a realidade, agindo sem a pressão da ilusão de segurança (consciente e/ou inconsciente). Em sentido literal, todos temos os pés no chão, mas, em nível energético, isto nem sempre acontece. Se a energia da pessoa não flui vigorosamente até os pés, o contato sensitivo ou energético com o chão fica seriamente limitado. Um contato superficial, como nos circuitos elétricos, nem sempre é suficiente para assegurar o fluxo da corrente . Num sistema elétrico, o acúmulo súbito de carga pode queimar uma parte da instalação ou provocar um incêndio, assim como na personalidade humana, o acúmulo de energia também poderá ser perigoso caso a pessoa não tenha contato com o chão. A pessoa pode fragmentar-se, entrar em pânico e ou em depressão. Quanto mais a pessoa sente seu contato com o chão, mais consegue pôr-se em seu lugar, mais carga consegue suportar e com mais sentimentos consegue lidar. (Lowen).
Considerando o desenvolvimento do indivíduo como um processo, onde suas experiências vão construindo sua personalidade e seu corpo, acreditamos que os indivíduos que durante a infância foram bem cuidados, isto é, receberam apoio e suporte adequados( holding), desenvolveram um bom grounding.
Winnicott escreve que no início da vida do bebê a mãe tem realmente duas funções importantes: a primeira é tentar proteger a criança contra a invasão excessiva vinda de fora, excesso de estímulos e de interações. A outra função é ajudar a criança a não ficar inundada por seu próprio desconforto interno.
Quando a aflição da fome ou da dor surge no bebê, a mãe deveria estar disponível dentro do que Winnicott chama um tempo “suficientemente bom” para prover uma nutrição “suficientemente boa” de modo a evitar que a criança fique inundada por sua própria aflição e conseqüentemente, consiga manter seu próprio estado natural de equilíbrio. Ao ajudar o bebê a manter seu equilíbrio interno, a mãe funciona como um ground para a sua energia, como uma ponte energética humana entre o sistema de energia do bebê e o mundo. Como menciona Robert Hilton, também o bebê precisa do fio-terra da mãe de modo que seu sistema não fique sobrecarregado e que ele possa comunicar suas necessidades para o mundo. Assim há um enraizamento de seu próprio ser, há a construção do sentimento de segurança no desenvolvimento do seu ego no que se refere à interação com o mundo e podemos afirmar que esta capacidade se constrói e se estrutura a partir da mais tenra idade.
Partindo desta afirmação e baseados no conceito de grounding, propomos uma vivência em que os participantes possam se experimentar nas diferentes fases de desenvolvimento, estabelecendo a relação do holding nas diversas fases com o grounding como adultos.
A partir desta experimentação esperamos que os participantes possam sentir e refletir sobre o que precisam desenvolver e fortalecer para criar um bom grounding em suas vidas. Lembrando que para Lowen a pessoa grounded sabe onde está e portanto sabe quem é, tem seu lugar, é alguém. Neste sentido, está identificado com seu corpo, ciente de sua sexualidade e orientado para o prazer.
“O crescimento é um processo natural, sua lei é comum a todos os seres vivos. Uma árvore, por exemplo, cresce para cima se sua raiz cresce para o centro da terra. Nós aprendemos com o estudo do passado. Sendo assim, uma pessoa, só pode crescer, se firmar suas raízes em seu passado. E o passado de uma pessoa é seu corpo”.
Bibliografia
Lowen, Alexander – “Bioenergética” Summus Editorial, São Paulo – 1975
Davis,Madeleine e Wallbridge, David, “Limite e Espaço” – Uma introdução à obra D.Winnicott – Imago Editora Rio, 1982.