Leonard A. Carlino, Ph.D.
Além de ser um método de terapia, Alexander Lowen dizia que a bioenergética é uma teoria da personalidade. É uma maneira de entender a personalidade a partir de uma perspectiva não somente energética como também psíquica. Aqui, espero demonstrar que a bioenergética é também uma maneira de entender conceitos religiosos e espirituais e, portanto, fornecer direções para se viver uma vida espiritual a partir da perspectiva da bioenergética. A teoria da estrutura de caráter nos ensina que a criança, em uma tentativa de manter um sentido de segurança quando se sente ameaçada com a perda do amor de um pai ou mãe, desenvolve defesas de caráter psíquicas e físicas. A perda do amor do pai ou da mãe é sentida subjetivamente pela criança como algo doloroso e ameaçador e, á nível inconsciente, é sentida pela criança como uma ameaça á vida. Já que ser pai ou ser mãe é um processo imperfeito, todas as crianças, até certo ponto, experimentam uma ameaça existencial á sua vida. Para lidar com essa ameaça á sua existência, as crianças reprimem os sentimentos de ameaça á vida e separam esses sentimentos do seu self. Como adultos, esses sentimentos reprimidos são projetados como sentimentos em outros e/ou percebidos como forças que vêm do universo. As defesas de caráter apenas mantêm ilusões de contato, segurança e amor, amortecendo a força pulsante da vida; portanto, a terapia é necessária para que o paciente tenha consciência do seu self reprimido e bipartido (split off). Se ele for capaz de trabalhar esses sentimentos de ameaça á vida, o adulto experimentará seu self em um estado de graça e fluxo. “Trabalhar” significa trazer os sentimentos até o consciente, integrá-los ao self, ver os sentimentos como experiências do seu passado como criança e tratar de acompanhar as limitações musculares e da respiração. Da mesma maneira, se esses sentimentos não forem trabalhados, o adulto experimentará o seu self em estado de estagnação e não se sentirá em estado de graça. Quando o indivíduo não está em estado de graça, ele ou ela se sentirá desconectado dos outros e da vida e estará tão fora de tudo que ele ou ela perceberá o demônio ou o diabo como fora do self. Quando as pessoas não estão em ground no bom e no ruim como realidades que pertencem ao self, para explicar suas percepções subjetivas, elas desenvolvem conceitos fora do self. Esses conceitos tornam-se Deus, para representar o God não pertencente ao self, e o diabo, para representar o diabo pertencente ao self. O trabalho de corpo é essencial nesse processo. Sem o trabalho de corpo, o Deus e o diabo permanecerão na cabeça, como um fenômeno racional, ou transcenderão como energia espiritual além do self e seu corpo. Mente – Corpo – Espírito Mente, corpo e espírito são conceitos tradicionalmente vistos como entidades discretas. A bioenergética vê a mente, o corpo e o espírito meramente como diferentes qualidades do self, e não ensina que um pode existir independentemente do outro. As práticas religiosas vêem esses conceitos como entidades distintas. Muitas práticas ocidentais foram desenvolvidas a partir da necessidade de lidar com a extrema pobreza, dor e misérias da vida. Ao fazer o espírito transcender a mente e o corpo, o self pode obter algum alívio da dor. Eu digo que essas práticas, apesar de servirem uma função, não têm ground e são defesas dissociativas. A dor que o homem moderno sente é, na sua grande parte, psicológica e inconsciente. Práticas religiosas não têm técnicas para desvendar os mistérios do inconsciente. Técnicas analíticas modernas, e especialmente a análise bioenergética, possuem essas técnicas. O mesmo pode ser dito das chamadas experiências passadas da vida. Freqüentemente, partes do inconsciente são trazidas para o consciente. Se esses sentimentos conscientes não forem integrados analiticamente no self e vistos em termos de experiências pertencentes á infância, então será mais fácil atribuí-las á uma vida passada. São necessários muitos anos de muito trabalho para integrar esses fragmentos conscientes nos sentimentos embutidos no inconsciente. Uma realidade diferente, uma maneira diferente de vida Quando a couraça muscular é dissolvida, pelo menos temporariamente, na sessão terapêutica, existe um fluxo livre de energia e o corpo, a mente e o espírito sentem-se integrados ao universo. Isso ocorre freqüentemente quando somos encorajados a enfrentar nossos demônios, negativismo e nossas resistências. Entender o bem como energia que flui sem impedimento e o ruim ou o demônio como energia que é impedida ou bloqueada é um conceito Reichniano básico. Já que a couraça muscular é desenvolvida como uma defesa aos sentimentos que ameaçam a vida, quando as defesas musculares são dissolvidas nos defrontamos de novo com o medo da morte. Isto é, o paciente sente que, se ele ou ela se render, morrerá. Se nos rendermos, estamos nos preparando para aceitar a nossa própria mortalidade, a nossa morte. Eu vejo o mito da vida após a morte como uma defesa contra o medo de morrer ou se render. Se acreditarmos que existe vida após a morte então não estaremos totalmente nos rendendo porque apenas perderemos o nosso corpo. Este é outro exemplo de defesa dissociativa já que a mente, o corpo e o espírito são um só. Uma vez que as práticas religiosas e espirituais não têm técnicas para dissolver e enfrentar esses tremendos medos do inconsciente, elas mantêm o mito da imortalidade. A bioenergética oferece técnicas para enfrentarmos a nossa mortalidade e, nas palavras de John Lennon, podemos “imaginar que não existe inferno abaixo de nós, e, acima de nós, somente o céu.” Dizendo nossas preces bioenergéticas As nossas defesas de caráter e armadura muscular nunca são completamente dissolvidas na terapia portanto, precisamos aprender a nos trabalhar pelo resto da vida, depois de terminada a terapia. Precisamos aprender a cultivar o desejo de trabalhar consigo mesmo e a re-experimentar a dor e o medo da nossa infância. Com o tempo, essa prática torna-se mais fácil e até bem-vinda já que ela é libertadora e melhora a vida. Trabalhar com esses assuntos é uma questão de profundidade. A terapia nos deixa entrar em contato com nossas defesas mas este é um processo que continua a vida inteira para que possamos reduzir as nossas defesas e armaduras. Quanto mais deixamos de ter medo da morte, menos medo temos da vida e da nossa mortalidade. Esta prática nos ajudará a permanecer em um estado de graça. Precisamos dizer as nossas preces bioenergéticas, isto é, precisamos kicar a fim de recuperar nosso medo da agressão e precisamos chorar no stool para recuperar nossa tristeza e emendar nossos corações partidos. Quaisquer que sejam os sentimentos que levantem as nossas defesas, eles precisam ser revisitados. Quando praticamos isso, nós enfrentamos nosso medo da expansão da vida e a contração final da morte. As pessoas que já trabalharam comigo sabem que eu gosto de usar a analogia de um pêndulo. Quando ele vai para a esquerda, isso significa regressão e quando ele vai para a direita, significa progressão. Quando mais longe regredirmos, maior será o nosso progresso. O lado esquerdo ou sentimentos regressivos representam dor, medo, contração, o diabo, o ruim, o inferno, a falta de graça e a morte. O lado direito ou sentimentos progressivos representam prazer, segurança, expansão, o Deus do self, o bom, o céu, a graça e graciosidade e a vida. Quando dizemos nossas rezas bioenergéticas, deixamos que o pêndulo gire para a esquerda para os sentimentos regressivos. O resultado é uma re-ação ou virada para a direita, entrando nos sentimentos progressivos. Esta não é uma prescrição de vida fácil. É mais fácil projetar nossas falhas nos outros, ou no universo, ou transcender nossa dor através de práticas espirituais. Toda a realidade que precisamos para a vida está dentro de nós mas é necessário a vida inteira de intenso trabalho para recuperarmos nosso inconsciente e o nosso completo self. O pêndulo:Quanto mais regredimos na dor e no medo da nossa infância.
(Desenho do pêndulo)
Mais poderemos progredir para nosso prazer e segurança adultos. Contração ExpansãoDiabo Deus do selfRuim BomInferno Céu Falta de graça Graça ou graciosidade Morte Vida
Leonard A. Carlino, Ph.D.