CORPO E NATUREZA: RESGATANDO O ELO SAGRADO.
Mary Lee S. Silva e Miriam Mantau
Inst. : SABERJ – Sociedade de Análise Bioenergética do Rio de Janeiro
Trabalho Teórico Vivencial: 90 minutos
Ambiente com música para receber as pessoas.
1º) Momento: Como estão chegando? (tempo para sentir)
Responda expressando seu estado presente através de uma imagem da natureza.
Partilha no círculo em forma de elo.
Fechamento:” Nós somos natureza.”
2º) Momento: Fundamentação teórica.
3º) Momento: Vivências.
Exercícios: Grounding, respiração e contato.
Sentir o corpo e se expressar naturalmente. Movimentos livres.
Exercício de enraizamento :pág. 44 – Bioenergética: liberar a energia vital.
Propor um círculo (colocar a música: Roda-viva – Chico Buarque)
Desfazer o círculo e propor pares.
Em dupla: exercício de contato e criatividade. Qual a necessidade que cada um sente (resgatando aquela 1a. imagem da Natureza) Acolher a necessidade do outro de forma lúdica, livre.
Fechamento: novamente o Círculo – os elos sagrados: corpo e natureza – “Todos somos um”.
Fundamentação teórica
“Um ser humano é parte de um todo que chamamos ”o universo”, uma parte limitada no espaço e no tempo. Ele sente a si próprio, seus pensamentos e emoções, como algo separado do resto – um tipo de ilusão de ótica da consciência. Para nós, essa ilusão é uma espécie de prisão, restringindo-nos a nossos desejos e afeições pessoais para com algumas pessoas mais próximas. Nossa tarefa deve ser a de nos libertarmos dessa prisão, ampliando nosso círculo de compreensão e compaixão, de modo que possa incluir em sua beleza todas as criaturas viventes e a totalidade da natureza”.
Albert Einstein
Foram milhões de anos… Milhões de anos para o “humano” se diferenciar da ”Mãe-Terra”. Milhões de anos para o corpo ser gestado, acolhido, nutrido, preservado, até estar “suficientemente cuidado” para sentir e se perceber e assim, dar início à “saída do paraíso”, a se discriminar da Mãe Natureza, como se milhões de anos correspondessem aos primeiros meses do bebê, que aos poucos se percebe e descobre que existe, separado da mãe.
Mas isso era só o começo. A mãe que o nutria também destruía, e foram mais alguns degraus no tempo para criar símbolos para integrar essa mãe construtora-destruidora. Então surgiram deuses e demônios que passaram a ser temidos ou adorados e, de forma pagã ou religiosa, surgiu o convívio com a Mãe através de ritos e religiões.
Até que chegamos ao séc. XIX, quando Sigmund Freud trouxe a natureza para “dentro” do corpo. Os símbolos, os sonhos para o inconsciente, a força vital para a libido. Não era mais a relação do corpo com a natureza, mas do homem como próprio símbolo de sua complexidade e resolução. E passamos a viver uma era em que natureza e psique se coadunaram, afastando-nos de nossa inserção mais literal com a natureza e ganhando uma nova dimensão para o humano, responsável agora pela maturação de uma separação com a Mãe primordial e parental. Incorporamos deuses, demônios, bruxas… Tudo veio para o nosso corpo, um novo corpo, cuja jornada passou a ser interior, tivemos que “enxergar na escuridão”.
Até que no séc XX, Wilhelm Reich “descobre” ou vivencia que o inconsciente está inscrito no corpo, que os símbolos e sonhos expressam a história ancestral e parental da psique, mas que há uma história escrita no corpo, que pode ser lida, que “fala”, que se expressa, onde existem demônios e deuses aprisionados, rios e cachoeiras correndo ou represados, fontes que cantam ou se escondem sob as pedras, todos suscetíveis ao toque, todos expressão de uma realidade física, e passamos a ter uma junção corpo-mente como uma unidade. E então, um cliente e aluno de Reich, Alexander Lowen dá mais um passo e inscreve a história do corpo, de volta à sua origem, reconecta-o às suas raízes, resgata sua Natureza animal, onde residem as qualidades de ritmo e graça. E surge a Análise Bioenergética como um caminho de retorno a casa, à natureza, ao contato orgânico e ecológico do corpo com o planeta e com o cosmos.
Convido vocês a colocar os pés no chão e estender os braços rumo ao céu e visualizar árvores lindas com suas extremidades enraizadas na terra e as outras extremidades estendendo-se para o céu. Nós somos como as árvores. A altura que poderemos alcançar dependerá da força do nosso sistema radicular. Não se pode arrancar uma árvore do solo, pois ela morrerá. Da mesma forma, as pessoas estão energeticamente ligadas à terra. Pessoas que não estejam ligadas a terra correm o risco de serem esmagadas por fortes sensações de qualquer natureza, sexual ou não. Para evitar que isso ocorra essas pessoas reduzem as suas sensações. No entanto, a pessoa ligada à terra pode suportar forte excitação. Quando colocamos que uma pessoa está bem aterrada, significa que sabe quem é e qual é a sua situação. Estar ligado com a terra é estar conectado com a realidade básica da vida, com o corpo, com a sexualidade e com as pessoas com quem se relaciona.
Na análise bioenergética observamos como uma pessoa fica de pé. Se a pessoa está segura de si, ela fica naturalmente ereta. Se estiver assustada, poderá mostra-se encolhida. Se estiver triste ou deprimida, seu corpo tenderá a ficar curvado. Se sua postura apresentar-se rígida demais, poderá estar tentando negando uma sensação interna de insegurança.
A questão que estamos abordando não se trata apenas de ter os pés apoiados no chão. Trata-se de um processo energético no qual uma onda de excitação desce através do corpo e chega até as pernas e os pés. E esta onda ao atingir o chão muda de sentido, fluindo para cima. Assim, podemos conscientemente manter-nos firmes ao ficarmos de pé eretos.
Dessa forma, a Bioenergética propõe um trabalho com o corpo, com o objetivo de alcançar uma profunda ligação com a terra. A qualidade do aterramento obtido no referido trabalho resulta no senso de segurança interior. Lembrando que não se trata de desenvolver a força nas pernas; mas sim da sensibilidade. Pois, pernas grandes e fortes, se atuam mecanicamente, denunciam uma insegurança. E pernas subdesenvolvidas também representam uma insegurança, mantida pelo stress ao que o corpo foi e é submetido frequentemente.
O sentimento de insegurança desenvolve-se na infância, na relação mãe-criança, a partir de experiências negativas, como a falta de afeto, o que fica marcado no corpo rígido da criança. E o sentimento de segurança é criado baseado em experiências positivas, tais como: cuidados, afeto, proteção… O corpo da criança expressará um estado natural, flexível e gracioso. Assim, o corpo será experimentado como fonte de prazer e satisfação.
Portanto, em algum lugar do passado “ter os pés no chão” era considerado algo bom. Mas para o homem moderno o termo mais adequado pode ser aquele que “voa alto e rápido”. Não é fácil tentar reduzir o passo, quando em volta todo mundo está correndo. É difícil tentar conectar-se a terra quando a própria cultura perde as suas raízes, negando a realidade e promovendo a ilusão de que o sucesso representa o estado mais elevado do homem. Quando sabemos que os verdadeiros valores da vida são algo mais simples como: saúde, amor, paz, prazer… Fundamental dizer que esses valores só têm sentido para as pessoas que possuem os pés plantados na terra, com suas raízes entrelaçadas num sentimento de unidade, e respeitam o elo sagrado: corpo e natureza.
Referências bibliográficas:
HOFFMANN, Richard. Bioenergética: Liberar a energia do corpo. Tradução de Betty M. Kunz. Porto Alegre: Kuarup,1997.
LOWEN, Alexander; LOWEN, Leslie. Exercícios de Bioenergética: O caminho para uma saúde vibrante. Tradução de Vera Lúcia Marinho, Suzana Domingues de Castro. 5ed. São Paulo: Agora, 1985.
LOWEN, Alexander. A Espiritualidade do Corpo: Bioenergética para a Beleza e a Harmonia.Tradução de Paulo César de Oliveira.São Paulo, Cultrix,1990.
KELEMAN, Stanley Mito e corpo. Tradução de Denise Maria Bolanho, São Paulo Summus Editorial, 2001, 2a. Ed.
MATURANA Humberto e VARELA Francisco J. A Árvore do conhecimento
Tradução de Humberto Mariotti e Lia Diskin. São Paulo Editora Palas Atena, 2001.
LOWEN, Alexander Alegria Tradução de Maria Silvia Mourão Netto São Paulo
Summus Editorial, 1997.